Jornais, rádios e televisões andam há uns dias em grande euforia desde que o milionário norte-americano, Warren Buffett, disse que está na hora de aumentar os impostos sobre os mais ricos para ajudar a baixar o défice, no que foi seguido por “representantes das 16 maiores fortunas de França que se ofereceram para pagar mais impostos, de forma a contribuir para a resolução dos problemas financeiros do país.
Uns lançam alguma esperança no cidadão comum e dizem que “Imposto sobre os 100 mais ricos de Portugal salvava subsídio de Natal”. Outros, mais cépticos, afirmam que «aumentar o IRS dos mais ricos “é um disparate”», enquanto há também quem proponha um “imposto extraordinário e venda de submarinos para abater dívida” e também quem prefira o apocalipse e fale em “fuga de capitais” se não houver cautela com o que se exige aos ricos (António Capucho na SIC Notícias e Mira Amaral na TVI24).
O Governo ainda não se pronunciou sobre estas movimentações mas os jornais afirmam que “tem andado a seguir com interesse o debate que tem existido na Europa sobre esta matéria” e que “abre a porta a taxa especial para ricos” admitindo, segundo “fonte oficial do gabinete do primeiro-ministro”, que “é provável que a questão seja discutida para a semana”, mantendo assim todas as portas abertas para melhorar as contas públicas e dar sinais políticos à população”.
Perante estes “sinais”, prevê-se que o Governo esteja perante um dilema: se resolver agora taxar os ricos (qualquer que seja a modalidade que venha a escolher) precisa de explicar muito bem porque razão não o fez na altura em que criou o imposto especial sobre o subsídio de Natal. Se não os taxar, mantendo as razões apontadas na altura pelo ministro Vítor Gaspar, será ainda pior, depois de personalidades da sua área terem apoiado a ideia. Nesse caso, o cidadão comum dirá que o Governo não tem coragem nem sensibilidade social.
Dado que não poderá deixar de fazer qualquer coisa que vá de encontro às expectativas criadas pelo exemplo dos franceses e norte-americanos, o Governo vai mesmo precisar que algum dos seus estrategas de comunicação engendre um plano imaginativo para explicar aos portugueses o volte-face a que será obrigado.
Se o estratega tiver ousadia e imaginação aconselhará o Governo a dizer aos portugueses que face-ao-novo-contexto-criado-pelas-posições-dos-nossos-parceiros-europeus-e-feitas-as-contas, retoma a sua promessa eleitoral e retira o imposto especial sobre o subsídio de Natal, substituíndo-o por uma taxa sobre os mais ricos, de valor correspondente.
O plano deverá equacionar os ganhos de tal decisão: a popularidade do Governo subiria em flecha; as greves e movimentos de protesto anunciados acalmariam por uns tempos; a Oposição mais à esquerda ficaria sem argumentos imediatos; o PS apoiaria a medida porque já antes a propusera; o povo agradeceria e ficaria mais feliz, pelo menos até ao Natal.
O estratega precisará de se preparar muito bem para enfrentar a oposição dos ministros “não políticos”. O seu plano deverá conter uma alínea aconselhando o primeiro ministro a sugerir ao ministro Vítor Gaspar que goze uns dias de férias (que ainda não teve, a crer na ausência de informação sobre isso nas revistas da especialidade). A conferência de imprensa para anúncio da decisão deverá ter lugar a uma hora matutina, sem atrasos, e será dirigida pelo primeiro ministro com direito a perguntas dos jornalistas.
Se tudo correr como previsto, o estratega será promovido e talvez na primeira remodelação ministerial lhe caiba um lugar de quadro.