A quem interessa a notícia?

Tal como na investigação de crimes há notícias que devem ser lidas fazendo a pergunta: “a quem interessa a notícia, isto é, quem beneficia com ela?” 

No caso da manchete do Público deste domingo, adivinhava-se que  seria desmentida, como veio a acontecer. Bastava confrontá-la com os dados em que se baseia: um facto, três ou quatro conjecturas, outras tantas asserções, um título polémico e pouco mais. 

Na impossibilidade de saber se ela corresponde a algo de concreto, resta ao leitor tentar perceber o que a inspirou, respondendo à  pergunta a quem é que ela interessa.

Várias hipóteses são possíveis.

Hipótese a): interessa ao governo e à maioria porque transmite a ideia de um PS fracturado, com os deputados divididos e a serem influenciados por Sócrates, surgindo o PSD e o Governo de coligação como a única alternativa e o “menor dos males”;

Hipótese b): interessa também ao governo e à maioria  porque o líder do PS não querendo que se pense que Sócrates continua a influenciar o PS,  levará o PS  a abster-se em vez de votar contra o orçamento de Estado, o que para efeitos externos é melhor para o governo;

Hipótese c): interessa aos adversários internos do líder do PS porque a imagem de um PS dividido enfraquece-o e estreita a sua margem de decisão quanto ao sentido do voto socialista no orçamento;

Hipótese d): interessa ao líder do PS  porque coloca os deputados que estão contra o orçamento na posição de marionettes  instrumentalizadas por José Sócrates;

Hipótese e) interessa a José Sócrates porque mostra que mesmo ausente continua a merecer a atenção dos média, além de revelar que ele continua com capacidade para influenciar o PS;

Como nasce então uma notícia que pela sua ambiguidade interessa a todos e a ninguém?

Tal como em  grande parte das  notícias da área política tudo indica que esta notícia nasceu de conversas de “bastidores”, de conjecturas e análises a partir de “sinais” e sobretudo de muito  spin.

Porque, de concreto, existe na peça apenas um facto:  “No dia 20 de Outubro, José Sócrates e António José Seguro almoçaram em Paris”.

 

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