Se a acusação do processo Face Oculta viu os telejornais desta sexta-feira vai pensar que as televisões se combinaram para “limpar” a imagem do réu – o “sucateiro” Manuel Godinho.Explico porquê:
Depois de ter passado os dias a recusar falar aos jornalistas e estes dizerem que o homem estava isolado no tribunal, que ninguém falava com ele a não ser os seus advogados, as televisões conseguiram que ele falasse. A TVI até almoçou com o “sucateiro”. “Sucateiro” não é nome mas é assim que Manuel Godinho era sempre apresentado nos média para que se ficasse logo a perceber que ali havia “sujidade” e lixo. Godinho perdera até a identidade, sucata, era a sua marca de água.
Pois então não é que o homem apareceu nas televisões, meio comovido, olhos a brilharem, simplicidade e sinceridade nas palavras, incomodado por o juíz ter mandado emitir as escutas no tribunal, com toda a gente ouvir em vez de apenas as transcrever, o que sempre era diferente? O “sucateiro” nunca pensou que ouvissem o que ele dizia ao telefone, “coisas menos próprias”, “conversa de amigos”, à vontade, etc. e tal…O homem afinal tem sentimentos e até se envergonha que ouçam o que ele diz na intimidade.
Tímido e modesto, disse o “sucateiro” ao jornalista:
É um perigo as televisões darem voz a gente simples como o “sucateiro”. É que ao vê-lo e ouvi-lo acredita-se nele. O “sucateiro” que apareceu nas televisões não parece ser a mesma pessoa que no processo aparece como tendo “gizado um plano delituoso”. Parece antes aquela pessoa que, lá na terra, dizem que faz bem a toda a gente…
Os processos “mediáticos” têm destas coisas: “queimam” uns, “absolvem” outros. O juiz decide (nem sempre bem).