Uma boa questão é tentar perceber porque razão o processo BPN não desperta nos jornalistas e na opinião pública a mesma curiosidade despertada pelo processo Face Oculta.
Se analisarmos a questão sob o ângulo da visibilidade dos protagonistas de cada um destes processos, o BPN ganha aos pontos, desde logo, pelo número de ex-governantes envolvidos. No Face Oculta há apenas um ex-ministro (aliás, nada mediático, com escrevi aqui) enquanto no BPN há vários. No que respeita aos “protagonistas secundários”, no BPN parece haver só “vips” e alta sociedade enquanto no Face Oculta é mais povo e classe média.
Se, por outro lado, encararmos a questão sob o prisma dos prejuízos financeiros presumivelmente causados ao Estado por cada um destes casos, também aqui a diferença é abissal. Os milhões do BPN não têm paralelo nas “prendas”, nos robalos e nas alheiras, nem mesmo no Mercedes que o “sucateiro” do Face Oculta terá oferecido a um quadro de uma empresa pública que o terá favorecido.
Atendendo, em terceiro lugar, à dimensão do processo, avaliado pelo número de pessoas envolvidas, não se conhece toda a extensão do caso BPN enquanto no Face Oculta os protagonistas estão todos os dias na televisão e nos jornais e até se sabe que a sala do tribunal precisou de obras.
A que se deverá então a diferença de tratamento e de interesse jornalístico entre os dois processos?
Quatro respostas possíveis:
1. No caso BPN não há fugas de informação organizadas para os média, ao contrário do que acontece no Face Oculta;
2. No caso BPN a acusação não se baseia em escutas telefónicas, pelo que os jornalistas têm mais dificuldade em obter informação; no Face Oculta os jornalistas dispõem da “matéria-prima” (as escutas) sem necessidade de investigação própria;
3. No caso BPN, o poder judicial manteve-se “discreto”. Não sabemos os nomes dos polícias nem dos magistrados; no caso Face Oculta polícias e magistrados tornaram-se vedetas. Conhecemos pelos jornais os seus nomes e os seus rostos.
4. O caso BPN não teve um jornal “por conta”; o Face Oculta teve o Correio da Manhã como “jornal oficial”.
Pormenor: as diferenças fizeram sentir-se até no power-point: No BPN o colectivo de juízes não deixou a acusação exibir um power-point; no Face Oculta a acusação teve autorização para exibir o seu power-point.
Não é coisa pouca.
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O que eu acho mais preocupante aqui foi o power point ! Será que a Microsoft está metida nisto ? Brincadeiras a parte, este país está num estado terrível e aparece escandalo atrás de escandalo para desviar a atenção do escandalo anterior. Não se é alguem neste país se não se for um ladrão de classe alta, aí dispõe de toda a atenção e toda a gente lhe continua a fazer vénia e a tratar por “Sr. Dr.”, alguns deles sem sequer terem a 4ª classe. Este país está podre, essa é a verdade. E esta podridão tem um nome : Máfia ! Existe uma máfia muito bem organizada e não tem nada a ver com a máfia italiana, mas é máfia, são famílias, é crime organizado ao mais alto nível, é o polvo a mexer os seus tentáculos dentro de tudo o que são instituições de base da nação. E nós cidadãos assistimos passivamente a tudo isto, e continuamos a pagar e a pagar e a pagar… é tudo o que lhes interessa. Aliás, nem nos tratão por cidadãos, mas sim por contribuintes, ou seja, só temos interesse para o país enquanto contribuintes. Há muito que como cidadãos não interessamos nem ao menino Jesus.
Não é a política que divide os casos. O escândalo BPN teve a mão de Constâncio, de Teixeira dos Santos e de outros socialistas.
A diferença é que só um dos casos envolve maçons de graus superiores
Luis, a raiva tolda-lhe o discernimento. Não o conheço, não me arrisco a tomar a árvore pela floresta, nem pretendo, de todo envangelizá-lo. Mas, desculpe-me que lhe diga, as suas duas frases não são mais do que ódio e preconceito. O BPN é um banco privado sim, mas mesmo como banco privado, envolve dinheiro – e muito – dos contribuintes. Não só já envolvia à data muito dinheiro e aplicações do Estado e de empresas participadas como era (e é) uma “engrenagem” no sistema financeiro que, por relativamente pequena que fosse, poderia ter um tremendo impacto:
Ao contrário do que ultimamente nos querem fazer querer acreditar – mas a comprovar os constantes sobressaltos a que todos somos sujeitos – a economia não é uma ciência exacta e não está, portanto, sujeita a previsões infalíveis ou livres de crítica.
Salvar o BPN parece ter sido um erro, não o nego. Mas relembro-o do seguinte: se não tivesse sido nacionalizado, o grosso do dinheiro da dívida nunca chegaria aos seus credores (empresas, bancos, instituições) colocando-os, também a eles em extremo risco. Da mesma forma, e na sequência do pânico internacional à data, com a aparatosa queda do Lehman Brothers, os mercados poderiam entender o fim do BPN comoo sinal de um ciclo de queda em cadeia, arrastando-se a todo o sistema financeiro português. As repercussões poderiam causar um evento cataclísmico em cadeia com repercursões ainda mais graves para a economia. Poderá ter sido um erro, como lhe disse, mas não gostava de ter estado nos pés de quem tomou a decisão.
A razão, portanto, que aponta para a nacionalização ou deriva da má fé ou da ignorância. E não se atreva a não reconhecer o tremendo envolvimento político do banco. Já nem lhe vou falar daqueles super administradores (na esmagadora maioria do espectro “laranja”, com responsabilidades governativas ou não) que deixaram 6 mil milhões de euros desaparecer sem fazer perguntas, mas olhe…
…olhe, se quer que lhe diga, ainda hoje me compraz ouvir o Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva a dizer que nem sabia o que eram essas acções “com um nome esquisito em inglês” (sic). O professor de economia não sabia que ganhar mais-valias de 140% de um dia para o outro – de uma sociedade não inscrita na Bolsa de Valores – cheirava a esturro. Só por isto, quase teria valido a pena.
Lembro-me também, entre outras, de pérolas como o Joaquim Coimbra (accionista do Jornal Sol, entre outros) a dizer frente à Comissão Parlamentar de Inquérito que se lembrava que o “problema era o BI” – isto é, o Banco Insular – mas que pensava que o “Dr. Oliveira e Costa queria dizer que tinha o Bilhete de Identidade expirado”.
E coisas assim, deste calibre, ditas por pessoas com a responsabilidade que têm mas que, ao fim e ao cabo, não têm vergonha de as dizer. É isto que se devia censurar e não a pergunta – mais que legítima – da Estela Serrano. Ninguém desculpa os robalos. Mas tratar o BPN com esta indiferença só me faz desconfiar ainda mais.
Quer outro exemplo? Sabe qual era o accionista maioritário do BPP (o outro caso que parece que caiu no esquecimento)? Agora faça lá as contas a ver porque é que nunca tal facto foi referido na Sic ou no Expresso, entre outros…
Portanto, caro, Luís Moreira, se pensa mesmo o que disse – apesar de tudo o que talvez ainda não soubesse – queira fazer o favor de levar as suas lições de moral para outro lado.
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Se o senhor que é ministro das finanças se lembrar de taxar a imaginação o Sr. Luís Moreira arrisca pagar uma boa maquia.
Caro Luis Moreira´
Ainda bem que há coisas que os leitores nunca mais esquecem e não deveriam esquecer.
Vigarices e roubos têm o mesmo sgnificado no sector público ou privado e é indepentente do estrato social que os pratica
5 . Ou os jornalistas e as suas entidades patronais não querem ou receiam arriscar no combate contra pesos pesados!…
Excelente e verdadeiro
abraço
É preciso imagnação para fugir ao que está à vista de todos. No BPN é um caso de um banco privado, sem dúvidas para ninguém e que só se tornou um prejuízo público porque Sócrates quis saber o que se passava lá dentro para atacar o PSD e Cavaco. No Face Oculta são empresas do estado envolvidas em corrupção e, os prejuízos não são nada os robalos, são os negócios de milhões sem concurso e com milhões de prejuízo para o estado. Você Estrela, é uma figura pública devia ter cuidado com o que diz, pelo menos não deixar fugir de todo a sensatez. É que há coisas que os leitores nunca mais esquecem.