Portugal desceu em 2011 um lugar no “índice da democracia no mundo”, sendo agora o 27.º em 167 países, no relatório da Economist Intelligence Unit patrocinado pela revista britânica The Economist.
A descida de Portugal resulta de ter passado de uma “democracia plena” para uma “democracia com falhas”. Segundo o relatório, a principal razão para o declínio da democracia portuguesa, em 2011, deve-se à “erosão da soberania e da responsabilidade democrática associadas aos efeitos e respostas à crise da zona euro”.
Os indicadores em que a democracia portuguesa surge mais débil são a “participação política“, o “funcionamento do governo” e a “cultura política“. O “processo eleitoral” e as “liberdades cívicas” são aqueles em que atinge melhor performance.
A descida de Portugal compreende-se. De facto, entre nós, a participação política é débil e a cultura política um desastre. Exemplos disso surgem todos os dias. Veja-se:
– O ministro Álvaro apareceu de novo para dizer que as críticas ao governo vêm dos “interesses instalados”. Não disse quais são esses interesses. Calcula-se que sejam os dos desempregados, dos jovens, dos reformados…e de outros portugueses “instalados” na pobreza.
– A ministra da Justiça promoveu uma “auditoria” ao apoio judiciário, sem esperar pela verificação dos dados pela Ordem dos Advogados e sem notificar os advogados acusados, para se pronunciarem sobre as alegadas irregularidades. Também avançou com um concurso considerado ilegal. Como se não bastasse, não disfarça a animosidade que vota ao procurador-geral da República e diz do bastonário da Ordem dos Advogados o que Maomé não disse do toucinho.
– O ministro dos Assuntos Parlamentares fala da televisão pública como se se tratasse de uma televisão do governo.
– O ministro das Finanças contradiz com a maior naturalidade o primeiro ministro, no Parlamento, sobre quem mandou cortar os subsídios.
– Um deputado da maioria entra em transe no Parlamento, a defender o primeiro ministro nas declarações que fez sobre os professores desempregados e manifesta solidariedade com «todos os emigrantes menos um» – «o novo estudante de filosofia em Paris» – referindo -se ao anterior primeiro-ministro, afirmando que esse «não merece a solidariedade de ninguém», palavras que mereceram fortes aplausos das bancadas do PSD e do CDS-PP.
De facto, a cultura política e a democracia andam um bocado por baixo. Quem o diz é a revista liberal The Economist….Os liberais de cá não são como os de lá…