Os que esperavam uma palavra de esperança na mensagem de Natal do primeiro ministro devem ter ficado desiludidos. Decididamente, Passos Coelho não está para aí virado.
Fiquei desconfiada sobre o que o governo se prepara para fazer quando ouvi o PM dizer que “as nossas estruturas e as nossas instituições, tanto políticas como económicas, nem sempre estão à altura do serviço que têm de prestar.” É que as reestruturações são geralmente eufemismos usados para significar despedimentos, encerramentos, saneamentos, e coisas assim.
Já se percebeu que o primeiro ministro está desanimado, não tem soluções que não sejam cortes sobre cortes e por isso não é capaz de nos dar a tal palavra de esperança.
Temos então de ser nós a procurar conforto noutros discursos.
Este senhor, politólogo e professor universitário belga, presidente do Comité para Anulação da Dívida do Terceiro Mundo, fez parte da equipa que realizou, entre 2007 e 2008, a auditoria sobre a origem e destino da dívida pública do Equador, propõe um discurso alternativo ao dos nossos governantes. Não se pode dizer que não seja credenciado.
Entrevistado pelo Público, respondeu, entre outras, a uma pergunta sobre se a reestruturação da dívida seria uma solução para a “crise da dívida”, nos seguintes termos:
“(…) Na história da dívida, a reestruturação corresponde a uma operação totalmente controlada pelos credores. Quando o devedor quer tomar a iniciativa, tem de suspender os pagamentos da dívida, para obrigar os credores a sentarem-se à mesa e discutir condições. Uma reestruturação (…) [n]ão é uma solução de verdade. (…)”.
(Pelos vistos, o deputado do PS, Pedro Nuno Santos, que foi “cilindrado” por ter afirmado estar-se “marimbando para os credores” inspirou-se em fonte credenciada).
Ora, seria interessante para esclarecimento dos cidadãos “pagantes” da dívida que os programas de televisão – “Negócios da Semana”, de José Gomes Ferreira, e “Jornal das 9”, de Mário Crespo, na SICN – onde marcam presença assídua os “economistas do regime” , convidassem Éric Toussaint. E, já agora, também era interessante a TVI24 convidá-lo a debater, por exemplo com Medina Carreira no programa de Judite de Sousa.
Afinal, o homem não é um qualquer “bitaiteiro”. Veja-se o que já publicou em livro.
Não tenho esperança de o ouvir na televisão. É que também temos por cá pessoas com “pensamento alternativo” que são tratados como uma espécie de “sem-abrigo” e nem no Natal têm direito a aparecer na “sopa dos pobres” das televisões mainstream.