O plágio é uma das faltas profissionais mais grave do jornalismo. A maioria dos casos referenciados abrange o plágio praticado entre os próprios jornalistas. Com efeito, não é raro que um jornal, radio, ou televisão utilize notícias lançadas por outros sem indicação de proveniência, sendo as agências de informação as principais vítimas. A Internet veio tornar mais frequente e banal a prática de plágio, o que representa uma séria ameaça, não apenas aos direitos de autor dos criadores (jornalistas incluídos), mas, também, à credibilidade do próprio jornalismo.
O reconhecimento e a reparação pública de um erro praticado por um jornal faz parte da cultura profissional dos jornalistas em alguns países, como, por exemplo, nos EUA. Em Portugal, os provedores dos leitores têm dedicado algumas das suas colunas à questão do plágio, porém, o assunto não tem merecido grande atenção por parte dos meios académicos que estudam os media e o jornalismo.
Uma tese de mestrado defendida em 2011, na Universidade Nova de Lisboa, analisou casos de plágio tratados pelo provedor do jornal Público no período 2006 a 2001, debruçando-se sobre os argumentos usados em sua defesa pelos jornalistas acusados por queixas de leitores. O trabalho foi completado com entrevistas a 15 jornalistas de várias publicações com idades entre os 23 e os 35 anos.
A autora apurou que as formas de plágio mais frequentes consistem fundamentalmente na tradução e apropriação de artigos estrangeiros sem menção da fonte utilizada; cópia integral de frases e/ou parágrafos sem inserção de aspas e transcrição de textos de agências noticiosas sem menção da origem da notícia.
Relativamente aos entrevistados, oriundos de vários jornais, os dados são mais significativos: 13 dos 15 entrevistados afirmaram que a maioria dos casos de plágio que identificaram no jornalismo “não são muito graves”, nem são “nada de especial” e referem-se a “cópias de parágrafos inteiros de outras notícias”. Pelo contrário, consideram “grave” a “cópia total de outro artigo”. A partir das entrevistas realizadas a autora conclui que “o plágio é um comportamento presente no jornalismo português assumindo contornos de prática frequente”. A autora constata também que “não existe nos jornalistas entrevistados uma noção muito clara do que é o plágio no jornalismo”.
As conclusões obtidas nesta tese de mestrado não diferem muito de dados publicados em revistas americanas como a Columbia Journalism Review e a American Journalism Review nas quais muitos colunistas – jornalistas e académicos – escrevem frequentemente sobre o plágio no jornalismo.
Num artigo publicado em 1995, na Columbia Journalism Review (não disponível no arquivo electrónico da revista) Trude Lieberman escrevia que teoricamente plagiar é “usurpar as ideias ou as palavras de outrem” (…) usar uma produção de alguém sem creditar a fonte”. Mas, para o autor, “a definição esbarra com alguns obstáculos”: “plágio é o roubo de uma ideia, de uma palavra, de duas, três palavras, quatro frases, cinco parágrafos, longas passagens ou é pegar numa pesquisa feita por outro como se fosse sua? Ou será um rearranjo de palavras e pensamentos de outros?, questiona o autor, concluindo que “existe uma diferença entre usurpar uma notícia inteira ou roubar uma frase” e defendendo que “cada linha de texto deve obedecer a regras claras”, sendo certo que “um jornalista não pode usurpar a prosa de outros”.
Também num número alarmante de estudantes universitários de licenciatura, mestrado e mesmo doutoramento (e provavelmente entre muitos docentes e investigadores) “não existe [nos jornalistas entrevistados] uma noção muito clara do que é o plágio [no jornalismo]”. Como aliás, não existe em muitos outros meios, vide os sucessivos escândalos de plágio em teses de doutoramento de responsáveis políticos do centro e leste da Europa (Alemanha*, Austria, Hungria, Bulgaria, Roménia)
* no caso do ex- ministro alemão da Defesa, Karl Theodor zu Guttenberg, ao que parece, não foi ele que fez o plágio mas sim a pessoas a quem ele encomendou a tese!!!!