As declarações do ministro Nuno Crato proferidas ontem no final da reunião com os parceiros sociais, anunciando que é objectivo do Governo que 50% do ensino obrigatório este ano seja pela via profissional, fornecem um excelente exemplo para ilustrar o fenómeno a que me referi no post anterior: os media tradicionais estão a deixar aos bloggers e a outros “produtores de informação” a interpretação e a análise dos acontecimentos de actualidade.
As declarações do ministro foram imediatamente reproduzidas nas rádios, televisões, edições electrónicas dos jornais e hoje nas edições impressas. Porém, o que vemos, ouvimos e lemos, são essas declarações e as dos parceiros sociais que, neste caso, foram unânimes na crítica ao ministro. Isto é, os media mainstream – Sic Not, RTP, Renascença, Diário de Notícias, Correio da Manhã, Jornal de Negócios, Diário Económico, limitaram-se a cumprir o “protocolo” habitual na cobertura do acontecimento; noticiaram a reunião dos parceiros e deram voz aos protagonistas – ministros, patrões e sindicatos.
Tratando-se de um assunto de indiscutível interesse público, uma vez que abrange o futuro de milhares de jovens estudantes, afecta empresas e trabalhadores na sua formação profissional, implica alterações na distribuição das verbas do Qren, as pessoas interessadas em perceber o sentido das declarações do ministro, a sua exequibilidade e as suas consequências não encontraram resposta nos media tradicionais.
Foram, uma vez mais, “peritos voluntários” e especialistas em matéria de educação, activos em blogs, que vieram dar sentido às declarações do ministro.
Vale a pena ler alguns blogs onde o assunto é analisado e seguir os links a que muitos deles conduzem: Aventar, A Educação do meu Umbigo, Arrastão, AD Duo, Octávio V. Gonçalves, com ligações a fontes documentais e textos de enquadramento. Em alguns, os comentários de professores (concordantes ou discordantes), além de analisarem as declarações do ministro, relatam experiências próprias e alheias, todas elas muito úteis para o esclarecimento da situação do ensino profissional e das questões com ele relacionadas.
O confronto entre a informação obtida, neste caso, nos media tradicionais e na blogosfera revela um jornalismo preguiçoso ou desfocado do interesse dos cidadãos, mais preso às fontes e aos protagonistas oficiais. “O ministro disse, os partidos ou os parceiros comentaram…”. Na melhor das hipóteses há o politólogo ou o economista “de serviço”que contextualiza ou comenta. So what?
Nos media tradicionais encontrámos o acontecimento mas não a problemática. Ficámos a conhecer o facto anunciado mas não tivemos as pistas para dar-lhe sentido. Esse encontramos em blogs.
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Por acaso (??) ouvi na Antena 1 um comentário de Roberto Carneiro (perito em educação) a chamar a atenção para os perigos desta medida….