No instante da reunião do Conselho Nacional do CDS captado pelo fotógrafo Fernando Veludo e publicado no jornal Público, Portas segura freneticamente o braço de Pires de Lima, presidente daquele órgão, perante o cerrar de lábios deste e o olhar furtivo e desconfiado de Nuno Melo.
Pode ser um gesto de humildade, como que a pedir a Pires de Lima protecção e ajuda para sair do imbróglio em que se meteu, isto é, como demarcar-se de Passos e Gaspar sem sair do Governo.
Pode ser também um pedido de desculpa por ter calado e permitido que uma medida intolerável avançasse no Governo a ponto de ser formalmente anunciada pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Finanças.
Pode, enfim, ser um gesto de agradecimento a Pires de Lima por ele ter tido a coragem de dizer publicamente sobre a TSU o que Portas calou até hoje.
Seja o que for, o Portas captado naquela fotografia não tem nada a ver com o Portas profissional da política e do soudbite que surgiu depois na conferência de imprensa. Aí, de traje formal, Portas mostrou os seus dotes de comunicador e de organizador. Ideias sintéticas e repetidas em frases curtas. Sentimento à flor da pele, pestanejar no momento certo, até o fungar de uma ligeira constipação que parecia torná-lo mais humano funcionou.
Mas o conteúdo das suas palavras foi fraco e contraditório. No final, as três perguntas permitidas e previamente sorteadas foram respondidas quase por monossílabos. Os jornalistas não tiveram tempo de o confrontar com perguntas incómodas.
Marcelo, há pouco, na TVI, criticou Passos por não saber comunicar assim e recomendou que aprendesse com Portas.
Mas Passos e Portas não vão longe na arte de comunicar: Passos, porque pensando mal não pode comunicar senão mal. Portas, porque embora comunicando bem, transforma o conteúdo da comunicação em puro jogo de táctica….e desta vez, saíu a perder.