Vasco Pulido Valente (VPV) dá hoje, no Público, uma machadada na coligação PSD-CDS, traçando um retrato impiedoso de Passos e Gaspar mas também de Portas.
O que é sobretudo interessante no artigo de VPV é ele dizer coisas óbvias como por exemplo, “foi no PSD e no CDS que os portugueses votaram. Não foi no prof. Vítor Gaspar, que evidentemente desconheciam. Paulo Portas representa um eleitorado. O prof. Vítor Gaspar, por admirável que o dr. Passos Coelho o ache, em rigor não representa ninguém; e nada impede que o ignorem ou despeçam, sem prejuízo formal para a continuidade e até para a estabilidade da situação vigente”, e, no entanto, Passos parecer ignorá-las.
De uma penada, VPV dá uma lição ao primeiro-ministro sobre princípios democráticos básicos do funcionamento de um governo de coligação, não deixando passar a fraqueza de Passos perante Gaspar – “por muito admirável que o dr. Passos Coelho o ache”…(e acha mesmo, sabemos todos).
E acentua que Vítor Gaspar não só não representa ninguém como o seu “despedimento” – nesta expressão VPV diz a Passos que é Gaspar que depende de Passos e não o contrário e que, portanto, pode demiti-lo – poderá até contribuir para uma maior estabilidade…
E ao escrever que “a coligação depende dia a dia da vontade de Paulo Portas [e que] sem ele, não haveria maneira de evitar eleições”, VPV interpela Portas quanto às suas responsabilidades nas decisões de Passos e Gaspar porque, como VPV escreve também, “o cidadão comum presume (como agora se constata, muito mal) que a política do Governo, principalmente a política financeira, resulta de um acordo entre o PSD e o CDS, em que o PSD pesa por força mais, mas que também reflecte a influência do CDS.”
Que é como quem diz, escusa Portas de querer estar no governo com um pé e com o outro não, ou mandar o porta-voz fazer um discurso de oposição mas votar favoravelmente o orçamento de Estado, porque o “cidadão comum” sabe que este orçamento é também um orçamento do CDS. No fundo, VPV diz a Portas que não servirá de nada fazer-se de “idiota útil” porque será sempre responsabilizado pela governação.
VPV antevê um desfecho “acrimonioso” para a coligação: “A desenvoltura com que Passos Coelho e Vítor Gaspar tratam [Portas] e tratam o CDS levará tarde ou cedo a um rompimento acrimonioso.” ” A desenvoltura”, é como quem diz: eu diria antes “o desprezo”.
Diz ainda VPV que “o que nenhum cidadão quer ou imagina é que o prof. Gaspar e um grupo anónimo de peritos determinem o seu destino, à revelia dos seus representantes.”
Pois…mas é isso que temos.
Mesmo aqueles que acreditaram em Passos Coelho dificilmente poderiam imaginar que ao elegê-lo iriam ser governados por “um técnico de contas”!