O problema de Vítor Gaspar é o facto de pensar que é um génio. O enfado com que ele ouve os deputados e os jornalistas é bem o sinal de que o seu mundo não é o da realidade portuguesa. Pensando-se um génio, como tal dotado de um talento superior, ele vive entre fórmulas, teorias e folhas de Excel. Ser questionado sobre coisas comezinhas, pelos deputados nas comissões parlamentares e pelos jornalistas nas conferências de imprensa, causa-lhe um imenso tédio quando não indiferença.
Gaspar é um teórico que cria “realidades” virtuais para as quais traça percursos que obedecem a fórmulas que existem na sua cabeça, pouco lhe importando que se adaptem ou não à realidade. Está focado em fazer corresponder o País às suas teorias, pensando que a teoria não se funda na prática nem na realidade vivida e que basta que génios como ele a inventem e a repitam para que ela se torne ciência.
Por isso, é preciso compreender Gaspar. Quando ele diz, como disse hoje aos deputados da comissão eventual para o acompanhamento das medidas do Programa de Assistência Financeira a Portugal, que “não faz comentários sectoriais” nem o Parlamento é o local adequado para discutir essas questões, ou que “estamos agora no momento do investimento”, devemos entender estas suas declarações como estando Gaspar a referir-se a um projecto de País que apenas existe na sua genial cabeça, cujo funcionamento e progressão ele controla intelectualmente.
A naturalidade com que Gaspar afirma que “nada está garantido” e que a situação “não é fácil“ sem assumir a responsabilidade que lhe cabe, mostra a distância que o separa da realidade. Para ele o País é um projecto teórico sobre o qual disserta, indiferente aos argumentos dos que o contradizem, certo de que os génios serão sempre incompreendidos.
O problema não é que Gaspar se ache um génio ou mesmo que o seja. O problema é ele ter convencido da sua genialidade um político deslumbrado que chegou a primeiro-ministro de Portugal e este ter-lhe dado todos os poderes. Esse político não tem capacidade para enfrentar o genial Gaspar porque depende dele, alimenta-se dele e não existe sem ele.
O problema é que o projecto de País concebido pelo génio de Gaspar se transformou num real pesadelo para os portugueses, que se interrogam sobre quando é que o genial Gaspar terminará o seu projecto de País.
Obrigada, Deolindo.
Excelente análise psicanalítica de um doente em estado avançado de loucura.Nem Freud faria
melhor.
A realidade deste senhor faz-me lembrar aquelas pessoas que compram um presente no Natal para oferecerem, mas sem se preocuparem se a pessoa vai gostar ou se vai dar-lhe algum uso.
Infelizmente não vejo esse termo no horizonte. Dum lado existe cumplcidade do outro hesitação.
Numa franja contorcionismo nas outras o mesmo de sempre.