Espantosa a maneira como os jornalistas noticiaram hoje durante todo o dia o projecto de relatório parlamentar às parcerias público-privadas, produzido pelo deputado do PSD, Sérgio Azevedo, relator do inquérito. A generalidade dos jornais chama-lhe relatório, e alguns chamam-lhe mesmo “relatório final”.
Ouvindo as primeiras notícias da manhã sobre o documento facilmente se percebia que se tratava da encenação política de um projecto de relatório que deverá ainda ser objecto de contraditório e de uma versão final. E também se percebia que o projecto se encontra cheio de pressupostos de natureza política destinados a produzir efeitos mediáticos, nomeadamente a atingir José Sócrates.
O relevo que lhe foi dado pelos média durante todo o dia, deu razão aos promotores da encenação. Nenhum jornalista teve capacidade ou vontade de tentar um contraditório mínimo em relação ao conteúdo do projecto de relatório. O recurso foi o do costume: ouvir os partidos. Estes limitaram-se a um comentário de circunstância sem se deterem no conteúdo do documento. Foi preciso à noite, na TVI24, Augusto Santos Silva chamar a atenção para alguns dados que nenhum jornalista se lembrou de referir. Custo das PPPs para cada português (que, de acordo com o próprio relatório, é de 40 euros; número de parcerias dos governos desde Cavaco Silva, o primeiro-ministro que iniciou mais parcerias, e a mais polémica, precisamente lançada por Cavaco Silva – a Ponte Vasco da Gama.
Até o atento Paulo Magalhães, que na TVI 24 contracena com Santos Silva, se limitou a ler o que está no dito projecto de relatório. Nem tinha reparado que é apenas um projecto…
É assim muito jornalismo que se vai praticando entre nós: limita-se a ecoar o que as fontes dizem. Uma espécie de jornalismo de manutenção do status quo.
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Luís Calvo, não contrario os seus factos mas os meus também são factos, conforme se constatar nas peças linkadas…. Bom trabalho com muitos factos 🙂
Viva, boa noite.
As críticas são bem-vindas, sempre. Até sublinho este ‘sempre’ para sublinhar que não é, de facto, indesejável a crítica, seja a dita má, assim-assim ou boa.
Neste caso, “apenas” houve um meu comentário por ser – pensei e penso – por demais evidente que, aqui, a crítica estava baseada em ‘não factos’. Arrisco dizer que, seja para jornalista, investigador, professor, formador ou apenas crítico… é preferível ter por base “factos-factos”. “Apenas” isso.
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Mais saudações,
Luís Calvo
(factualmente tvi)
[aproveito para saudar a Graça. Picão,….até pareceu que os comentários foram combinados… :). Mas não foram. É facto]
Boa tarde, Luís Calvo. Obrigada pela sua resposta e pelas informações que me dá. Não ouvi a TVI durante o dia, apenas me referi à TVI relativamente ao “Política Mesmo”. Claro que todos erramos, quem critica e quem é criticado, o que não impede que cada um continue a fazer a sua parte, o melhor que sabe e pode. Pelo meu lado, prefiro que me critiquem do que sejam indiferentes aos erros que eventualmente eu cometa. Sempre pensei assim quando trabalhei na rádio, na televisão e agora como professora e investigadora. É a crítica que faz avançar o conhecimento. tenho pena que no jornalismo as críticas sejam vistas como coisa indesejável e pessoal. E logo no jornalismo que vive precisamente de analisar e criticar.
saudações
Estrela Serrano
Graça Picão, obrigada pela sua resposta. Vamos por partes: Os cidadãos que vêem televisão não são obrigados a conhecerem os “bastidores” das notícias. Se os jornalistas tentam falar com pessoas que consideram essenciais para que a informação seja tanto quanto possível completa e não conseguem por razões alheias ao seu trabalho devem, a meu ver, informar disso os telespectadores. Claro que Santos Silva é um actor interessado, como outros – Marcelo, Mendes, Ferreira Leite, Sócrates – os três primeiros citados à exaustão pelos média. Mas citei Santos Silva porque me chamou a atenção o facto de ele ter, em breves palavras, mostrado ao jornalista, que aliás considero um excelente profissional, como ele, jornalista, estava a dar como “bons” os argumentos do documento do relator como se fossem dados adquiridos. Foi apenas um exemplo. Sobre as questões que levanta, concordo com as suas dúvidas e acho que deviam fazer parte da notícia mas não as vi nem ouvi em parte alguma. Finalmente, causa-me sempre estranheza que um/a jornalista reaja a análises ao seu trabalho como se quem analisa, critica ou discorda praticasse uma heresia, nunca encarando isso como um exercício de liberdade e até de crítica construtiva.
Falar sem conhecer em que os jornalistas trabalham também é muito fácil . Ocorreu-lhes que as pessoas visadas, contactadas não quiseram falar? Não Houve contraditório porque o contraditório não quis falar .
SAntos Silva é o fiel da balança? Lembro-me que ele integrou um dos governos visados por este relatório preliminar . Quantos aos custos globais : quais ?
Os do TC?
Os da E&Y?
Os do governo ? É que a versão de 28 páginas distribuida aos jornalistas não tem esses custos.
E já agora …a Ponte vasco da Gama não faz parte da concessão Lusoponte, que segundo o dito documento é um dos piores exemplos?
Graça Picão
Viva, boa noite
já que falou em tvi24:
http://www.tvi24.iol.pt/videos/video/13896123/5 — peça que entrou no ar na 25ª Hora (na meia-noite, de 2ª para 3ª)
texto da peça na parte final, assim como já tinha sido no início: “o relatório é uma proposta psd (..) passível de alterações”
pivot de peça que acaba de entrar no jornal da tvi24 à meia noite.
“a versão preliminar do relatório sobre ppp está longe de ser consensual. pcp garante que esta é uma versão do psd e diz que (…)
Sobre o histórico ppp/… a pesquisa poderia ser exaustiva, mas fácil de fazer. O -agora-comentador tvi- Santos Silva até poderá ter feito no ‘site’ de Queluz.
Erros existirão sempre que alguém trabalha, pese embora o esforço contra os ditos. Mas sem status qualquer, dir-se-ia, em que vai -até- trabalhando.
Saudações,
Luís Calvo
tvi