Pela descrição feita por Judite de Sousa, no Jornal das 20, da TVI, a “nova forma” de comunicação do governo, de briefings diários com os jornalistas, parece inspirar-se na Casa Branca.
Em tempos deixei aqui regras idênticas às que foram anunciadas ainda hoje usadas pelos assessores da Casa Branca para comunicarem com os jornalistas. Recupero-as para quem quiser acompanhar o “modelo” agora a introduzir pelo governo de Passos Coelho. Datam de 1982 e constam de um documento intitulado “Regras para conversação com os jornalistas ao telefone ou pessoalmente”, transcrito no livro de Stephen Hess, The Governement/Press Connection Press Officers and their offices, 1984, The Brooking Institutions. Ei-las:
“on the record” – a fonte pode ser citada pelo nome e função (só para discursos e conferências de imprensa);
“background” – considerada a base mais comum das conversas com os jornalistas (a fonte pode descrever factos e opiniões de um modo mais completo e de uma maneira mais informal do que se se tratasse da categoria anterior). Em teoria, não serão feitas citações directas e as informações deverão ser atribuídas a “fontes oficiais”, “fontes da administração”, “fontes diplomáticas”, ou qualquer outra fórmula estabelecida por acordo entre a fonte e o jornalista;
“Deep background” – Esta regra envolve a obrigação de o jornalista não usar qualquer tipo de atribuição específica naquilo que escreve, devendo o texto ser enquadrado em termos de “é entendido como…” ou “sabe-se que…”. Esta categoria permite à fonte uma grande franqueza mas pressupõe que o jornalista assuma também uma grande responsabilidade no que escreve, na medida em que não existe uma fonte visível para citar. Por seu turno, a fonte deve assumir a responsabilidade de não confundir ou enganar o jornalista;
“Off the record” – tecnicamente significa que o jornalista não pode usar o que lhe foi dito, a não ser para preparar o seu trabalho futuro relativamente à informação que obteve. Segundo o documento, nada de substantivo deve ser discutido “off record”, pela simples razão de que nada de substantivo deve ser escondido do público.
Com a falta de profissionalismo que o governo tem mostrado nas suas formas de comunicar, veremos no que vai dar o modelo e quem o vai aplicar. Ou muito me engano ou o “desastre” vai ainda ser maior. É que estas regras são para serem aplicadas por profissionais da comunicação para comunicarem conteúdos substantivos. Por cá, nem os comunicadores do governo são profissionais nem os conteúdos são substantivos.
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