No novo-velho governo Passos será verdadeiramente o número três, a seguir a Portas e Albuquerque

Passos e Portas acordoNa declaração de Passos Coelho ao fim da tarde deste sábado, com Portas a seu lado, era visível o embaraço de Portas. Olhar vazio e perdido, braços cruzados como que a controlar qualquer gesto que denunciasse o evidente mal-estar que o domina. No blazer faltava a bandeirinha na lapela que Passos exibia, apesar de se tratar de uma reunião partidária.

Nas imagens televisivas recolhidas no início da reunião das direcções dos dois partidos era também visível que Portas se furtava às câmaras e às objectivas, segredando e sorrindo nervosamente para Nuno Melo, a seu lado.

É um bom sinal que Portas sinta vergonha, não por se ter demitido mas sim por ter sido obrigado a engolir a irreversibilidade da sua demissão. É sinal que ainda lhe resta algum pudor. Mas a sua credibilidade sofreu um rombo de dimensões incalculáveis.

Quanto ao acordo anunciado por Passos Coelho, revela o desespero a que chegaram os dois partidos. Passos abdicou dos poderes de um primeiro-ministro, entregando a Portas a coordenação da economia e o diálogo com a troika, as tarefas principais que só ao primeiro-ministro deviam caber, sobretudo quando o lema anunciado para este alegado novo ciclo da governação é o investimento e a economia.

Acresce que não se vê como se poderão conciliar a continuidade das políticas traçadas por Vítor Gaspar,  que justificaram a nomeação de Maria Luís Albuquerque, e a coordenação da economia entregue a  Portas, que, precisamente, quer inverter o rumo das políticas de Gaspar que desprezaram a economia.

Também não parece lógico (ao que se percebeu da declaração de Passos) que num acordo de governo para ser aprovado pelo Presidente da República se inclua um compromisso partidário de apresentação de  listas conjuntas às eleições europeias, como se esse compromisso tivesse alguma coisa a ver com o governo do País.

Enfim, se o Presidente vier a aprovar tão abstrusa solução, Portas vai pagar cara a birra em que se meteu. As novas funções no governo vão pô-lo à prova quer na coordenação da economia (coisa que o País hoje quase não tem) mas sobretudo como o interlocutor da troika, junto da qual os seus dotes oratórios e o seu jeito para os sounbites  valerão de muito pouco.

Portas pensa talvez que “meterá na ordem” a sucessora de Gaspar. Mas engana-se, porque foi a ela que o ministro alemão e Mário Draghi elogiaram e não a ele, a quem não deixarão de responsabilizar por ter feito o País perder milhões em poucos dias.

Quanto a Passos, mais parece um autómato. Ainda não percebeu o que aconteceu nem porquê. Sem Gaspar perdeu o rumo e por isso prepara-se para entregar o essencial da governação a Portas. Nesse novo-velho governo Passos  será, verdadeiramente, o número três a seguir a Portas e a Maria Luís Albuquerque.

 

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6 respostas a No novo-velho governo Passos será verdadeiramente o número três, a seguir a Portas e Albuquerque

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  3. RFC diz:

    Concordo inteiramente com os parágrafos sobre as relações do PP com a troika. E sobre o assunto até disse + algures nestas últimas horas: que se existisse uma réstia de possibilidade do PR em recusar esta *fórmula* de governo (em passês nos entendemos, pois) será, exactamente, sobre o alargamento das funções atribuídas ao PP para ele ostensivamente ultrapassar a linha vermelha imposta pelos credores. Investido a vice, portador de uma estratégia completamente ao contrário? Não vejo como.

  4. Maria diz:

    Portas não recuou, avançou para 1º ministro sem ganhar eleições. As comunicações ao País vão passar a ser mais que muitas. A economia vai crescer porque ele vai aproveitar os projectos de José Sócrates, que Álvaro de Santos Pereira abandonou e a conversação com a TROIKA não vai ser nenhum bicho de sete cabeças porque quem tem que dar contas é Maria Luiz Albuquerque. A liderança vai ser mais forte, é um ministro com mais experiência governamental e bem depressa ele recompõe a sua relação com o País. A pergunta que fica, é a seguinte: QUE FICA A FAZER NO GOVERNO PASSOS COELHO, porta voz, como até aqui ou chateia-se e vai a vida?

  5. S. Bagonha diz:

    Vamos então aguardar pelo início do combate Portas vs Albuquerque, porque depois do que foi dito, e feito, a convivência entre estas duas criaturas será impossível e, ou me engano muito, ou a próxima crise no seio do …., ia a dizer governo, no seio daquela choldra vai começar por aí.
    E já agora, e o Álvaro? Vai pura e simplesmente ser chutado para fora, vai ganhar vergonha na cara, comportar-se como um homem e demitir-se ou, se não correrem com ele, vai continuar com aquele sorriso bovino a fazer de conta que é ministro de alguma coisa?

  6. João Figueiredo diz:

    Alguém dizia hoje: “Afinal Portas recuou”. E o seu interlocutor ripostou: “Qual é a admiração? Para Portas recuar é quase um estilo de vida…”

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