Estamos em Julho, está um calor insuportável, estamos na silly season.
O Presidente passou a semana recebendo em Belém os partidos e as associações patronais e sindicais, supostamente para os ouvir sobre a crise e sobre a solução que lhe foi apresentada na sequência da demissão do ministro Paulo Portas.
Porém, ao contrário do que se esperava, o Presidente não revelou a proposta que tinha sobre a mesa. E deixou passar para a imprensa a ideia de que ia dar um “raspanete” ao PSD e ao CDS e aprovar a solução de governo apresentada por Passos Coelho.
Entretanto, Passos Coelho, sabendo que o Presidente foge de eleições como o diabo da cruz, anunciou ao País que, na solução proposta, Portas seria vice primeiro-ministro, Maria Luís manter-se-ia como ministra das Finanças e que entrariam novos ministros, deixando, por sua vez, passar para os média nomes de futuros ministros: Pires de Lima, Moreira da Silva…enquanto Álvaro era dado como estando de regresso ao Canadá.
Enquanto isto, o CDS desdobrava-se em explicações sobre o significado da palavra “irrevogável” concluindo que a irrevogabilidade da demissão de Portas se aplicava ao cargo do MNE e não à permanência no governo. E Portas surgiu sorridente nos últimos dias já a preparar a pose de vice, aceitando até o “lado-a-lado” com Maria Luís nas negociações com a troika.
É então que o Presidente, depois de ouvir os “peregrinos” que se deslocaram a Belém, chegou à conclusão que o melhor era falar ao País.
A partir daqui o cenário é ficcional:
O Presidente preparou dois discursos, como os candidatos em dias de eleições. Logo se via qual seria lido quando chegasse a hora marcada: 20h30.
Aguardou que Teixeira dos Santos falasse na Comissão Parlamentar de Inquérito aos swaps para decidir se lia a versão que aceitava a proposta de Passos ou se lia a versão em que não a aceitava e marcava eleições imediatas.
Chegada a hora marcada para a leitura, com as televisões à espera, verificou que Teixeira dos Santos continuava a falar na Comissão Parlamentar mas já tinha desacreditado completamente a ministra das Finanças provando que ela mentiu ao Parlamento mais do que uma vez e que Gaspar escondeu informação que recebera sobre swaps.
Então, o Presidente, verificando que a ministra das Finanças não tem “salvação”, que Portas não pode mandar no governo depois do que fez e que Passos nunca deixará de ser o que foi até agora, podendo ainda piorar, pegou num papel e escreveu nova versão do discurso, repescando bocados dos outros dois.
Foi assim que saíu aquele discurso sem nexo que deixou o País boquiaberto e incrédulo, sem perceber se tem governo e, se tiver, qual é ele, e se Portas continua ministro dos Negócios Estrangeiros ou se a palavra “irrevogável” retoma o significado original e ele já não é ministro de nada.
O Presidente prometeu iniciar novas rondas em Belém, agora apenas com os três “principais”. Vai ouvi-los sobre uma solução que pretende juntar os três num governo “provisório” onde os dois que já lá estão se deram mal um com o outro.
Isto só podem ser efeitos da silly season.
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