Eles dizem que nem tanto. Mas os jornalistas dizem que sim, que eles, os comentadores, têm poder.
Uma constatação assim tão clara e assumida como a que é feita pelos directores de jornais e televisões sobre o poder dos comentadores políticos que foram dirigentes partidários e membros de governos, é um dado importante para a análise do sistema político-mediático português.
E é importante porque esse poder que os directores lhes reconhecem (não discuto agora se esse poder é real) é-lhes conferido precisamente por eles, o que, pelo menos do ponto de vista teórico, leva a concluir que os directores consideram normal e positivo contratarem e pagarem a políticos para, no papel de comentadores, influenciarem os governos e, em geral, a vida política do País. Deve contudo ressalvar-se, a este propósito, o caso de José Sócrates, o qual, certamente consciente do poder que o seu comentário televisivo lhe confere preferiu fazer esse comentário de forma gratuita. Reconheça-se-lhe a coerência e a dignidade (por muito que custe aos seus detractores).
Marcelo Rebelo de Sousa percebeu o melindre da questão que lhe foi colocada pelo jornal e preferiu negar o poder e a influência que lhe são reconhecidos pelos directores que falaram ao Jornal de Negócios.
E é também curioso que a “qualidade” mais elogiada a Marques Mendes seja precisamente a de “dar notícias em primeira mão”, função que, convenhamos, compete aos jornalistas.
É óbvio que esta minha prosa é música para os ouvidos dos directores, sobretudo das televisões, pressionados cada vez mais pela necessidade de ganharem quota de mercado, isto é, audiências. E qualquer dos três políticos-comentadores lhes proporciona resultados que valem o dinheiro que recebem (Marcelo e Mendes).
Mas, também do ponto de vista da preservação de uma certa imagem do jornalismo, seria mais natural que os directores ouvidos pelo Jornal de Negócios tivessem, como fez Marcelo, desvalorizado o eventual poder e influência dos seus comentadores optando por gabar-lhes a independência e o desinteresse (político e financeiro) das suas prestações.
Foram, porém, sinceros, o que sendo “moralmente” louvável deixará os mais “puristas” preocupados.