Todos os dias, no País ou algures na Europa, alguém nos vem dizer que a troika vai sair de Portugal no dia 17 de Maio e que o programa de resgate foi um sucesso. Esses discursos são depois repetidos nos media, os comentadores comentam, os jornalistas ampliam as suas vozes e o “sucesso” faz o seu caminho nas mentes e nos espíritos de quem precisa de acreditar que ainda há futuro e esperança de uma vida com um mínimo de dignidade.
Manter uma atitude de optimismo, acreditar no “sucesso” é a palavra de ordem que é preciso incutir nos mercados e nas agências de rating. Podemos não acreditar, sentir na pele e no bolso que cada vez vivemos pior, mas temos de nos manter firmes na pose e no discurso, não deixando perceber uma dúvida, um franzir de sobrolho perante tanto optimismo, não vão a troika e as agências de rating fazerem subir os juros e perigar o “sucesso”.
Qualquer assomo de divergência na coligação representa uma ameaça que pode fazer subir os juros, qualquer palavra menos pensada pode ameaçar o “regresso” aos mercados, seja ele “limpo”, seja a precisar de alguma “lixívia”. Bem comportada, a coligação faz saber que vai haver “casamento” para as europeias e até para as legislativas, mostrando à troika e às agências de rating que não haverá jamais qualquer ameaça de abandono “irrevogável” de um dos parceiros.
A pantomina está bem montada e a dar resultado. Os juros têm baixado, a balança está equilibrada, as exportações vão de vento em popa e os juros…esse barómetro implacável… caem a olhos vistos….É preciso dizê-lo mesmo que ninguém acredite…
Onde é que já ouvimos este filme mas ao contrário?
Foi em 2011, nos primeiros meses, quando a “orquestra” internacional começou a dizer aos media, com a Reuters ao comando da manobra, que Portugal ia pedir ajuda à troika. Todos os dias as notícias, sopradas de fontes sempre bem informadas e sobretudo bem interessadas, faziam subir os juros… até que estes, chegados ao limite do sustentável precipitaram o fatídico resgate…
O que aconteceu depois é bem conhecido de todos nós…
O filme já está a rodar… Vamos a caminho da libertação e os libertadores são os mesmos que encontramos no início. A libertação que nos prometem é apenas uma nova amarra chamada “programa cautelar” ou qualquer outra coisa…Tanto faz, porque eles são como os vampiros…sugam o sangue até ao fim.
E orquestração afinada na comunicação social, a começar na RTP e na RDP, promete um concerto de grande nível.