Num curto espaço de tempo, dois jogadores de futebol tocaram o coração dos portugueses provocando reacções de catarse colectiva como há muito não se via. Primeiro, em manifestações de grande tristeza, na morte de Eusébio. Depois, de grande alegria, com a bola de ouro de Ronaldo, “coroada” hoje com a condecoração que lhe foi atribuída pelo Presidente da República.
Não é um acaso serem dois futebolistas a fazerem vibrar assim os portugueses, num momento em que o sofrimento, a angústia, a revolta e a desesperança são os sentimentos dominantes no País.
Os desportistas, nomeadamente do futebol, juntamente com os cantores e as estrelas de cinema e de televisão são os novos heróis e os ídolos dos dias de hoje. Os media celebram os momentos de consagração destes ídolos do povo, através de transmissões em directo levando ao País e ao mundo a pompa e a circunstância das cerimónias que os consagram. Foi assim com a morte de Eusébio e foi também assim com a bola de ouro de Ronaldo e hoje com a sua condecoração.
Com os exageros que sempre acontecem na cobertura televisiva, há razões para celebrar Ronaldo como as houve para chorar Eusébio. Ronaldo foi tratado em Belém como um chefe de Estado. Mais de duzentos jornalistas cobriram a sua condecoração e nem faltaram os cumprimentos e o protocolo a até uma assessora do Presidente vestida de “anjo” a guiar Ronaldo e o momento kitch em que a primeira dama conduz Ronaldo até à filha e aos netos…
Ronaldo representa mais do que o seu valor facial, que já é enorme. Ronaldo representa a vitória do profissionalismo sobre o amadorismo e o oportunismo; o valor do trabalho e da preserverança sobre o facilitismo; o amor pela família; a valorização do papel da Mãe – chorou ao vê-la chorar na bola de ouro. Ronaldo representa o amor à terra natal – foi no Funchal, onde nasceu, que ergueu o seu museu.
Mas Ronaldo é também um jovem como tantos outros: gosta de namoradas bonitas, de bons carros, de roupa de qualidade. Lutou e luta por conseguir tudo isso. Merece-os, portanto. Como mereceu as honras que lhe foram atribuídas.
Ronaldo e Eusébio fizeram chorar de alegria e emoção os portugueses, que bem precisam de “boas vibrações”….
(Dito na Antena 1, hoje)