Manuela Ferreira Leite é uma comentadora que foge ao politicamente correcto na área do comentário político. Não dá notícias nem tem acesso a informação privilegiada, como Marques Mendes, nem tem o talento televisivo e o cinismo político de Marcelo. O desprendimento com que analisa e critica o governo não se confunde com a falsa independência de Marques Mendes ou com as “ferroadas” de Marcelo. Felizmente para o governo, Ferreira Leite não beneficia do “palco” nacional da TVI como Marcelo, ou da SIC como Mendes. Tem apenas a audiência da TVI 24.
Com meridiana clareza, Ferreira Leite explicou hoje porque é que o líder de um partido não tem que se sentir “traído” se um outro membro do partido lhe disputa a liderança, e porque é que não existe o direito natural de o líder não poder ser desafiado sem ir a eleições. (Coincidência ou não António José Seguro tinha estado antes no mesmo estúdio a ser entrevistado e a repetir as críticas de “traição” e “deslealdade” ao seu opositor António Costa. Teria sido útil para ele ouvir Ferreira Leite e corrigir o argumentário).
Sobre o PS, a parte mais “original” do comentário de Ferreira Leite foi ela ter considerado “muito positivo” e “saudável” que António Costa e António José Seguro não façam promessas sobre impostos, dívida etc., porque falta muito tempo para as eleições e isso só lhes traria descrédito, já que ninguém está aberto a ouvir prometer coisas que os candidatos possam não vir a cumprir. Ferreira Leite foi, assim, contra o comentário jornalístico e político dominante, que critica os candidatos, nomeadamente António Costa, precisamente porque ele não diz já o que se propõe fazer daqui a um ano, se ganhar eleições.
No que se refere ao governo, Ferreira Leite foi acutilante e perspicaz quando perguntou o que aconteceu de novo para que a ministra das Finanças queira agora discutir a dívida quando esse era um tema tabú para o governo na altura em que o “Manifesto dos 70” (que Ferreira Leite subscreveu) foi divulgado. Exortou então Maria Luís Albuquerque a juntar-se ao “Grupo dos 70”. Aconselhou, porém, os partidos parlamentares a não aceitarem o debate da dívida proposto pela ministra sem primeiro esta apresentar um documento sobre o que o governo pensa sobre a dívida e como se propõe pagá-la.
Ora aí está uma coisa óbvia que, contudo, não lembrou aos partidos que aceitaram sem condições a proposta de Maria Luís Albuquerque quando esta os convidou a apresentarem eles as suas propostas.
Sem papas na língua, Ferreira leite duvida do convite de Junker a Maria Luís Albuquerque para uma pasta importante e afirma que essa pasta era destinada a um português – Silva Peneda – e não a Portugal, pelo que não tendo ele sido escolhido por Passos Portugal ficou sem essa pasta. E sobre Moedas, elogiou a sua capacidade para gerir a Ciência e considerou uma “ironia” que um sector causticado pela austeridade deste governo venha agora para um português.
Ferreira Leite tem a particularidade de dizer coisas óbvias mas que, por andarem afastadas do comentarismo dominante, parecem bombásticas!
Acho que não, porque se os partidos apresentarem as suas propostas sem conhecerem as do governo (e porque quer agora discutir o assunto) este fica numa posição favorável e o debate será sobre as propostas dos partidos sem se discutirem as do governo.
M F Leite “Aconselhou, porém, os partidos parlamentares a não aceitarem o debate da dívida proposto pela ministra sem, primeiro, esta apresentar um documento sobre o que o governo pensa sobre a dívida e como se propõe pagá-la”.
Isso não seria uma grande oportunidade para que o debate nunca mais acontecesse? Não seria um favor involuntário a M L Albuquerque?