Ainda não é desta que a RTP pode começar a trabalhar com um mínimo de paz. E, mais uma vez, a responsabilidade vem do governo, apasar das profissões de fé do ministro Poiares Maduro de que, agora sim, o governo não interfere na RTP.
Ora, o governo autorizou o presidente da nova administração da RTP a ganhar mais do que o primeiro-ministro, ao contrário do que acontece com a grande maioria dos gestores públicos. Só ele, aliás, o podia fazer, e o Conselho Geral Independente ou qualquer outro órgão interno ou externo à RTP, não têm poder para isso.
Não se compreende, pois, a reacção escandalizada do dirigente do PSD, Marco António Costa, que, pelos vistos, não foi informado pelo presidente do seu partido e primeiro-ministro da autorização concedida.
Já se sabe que em tempos pré-eleitorais a demagogia anda à solta. Marco António Costa, que noutras ocasiões não manifestou qualquer sinal de apoio à diminuição de salários dos trabalhadores da RTP, encontrou agora um pretexto para mostrar “solidariedade” com os sindicatos e com comissão de trabalhadores da empresa que se manifestaram contra os aumentos dos vencimentos da administração, tentando assim desresponsabilizar o seu partido dessa decisão.
Independentemente da justiça ou injustiça do aumento do salário dos administradores e do argumento de que é necessário “pagar bem para ter os melhores” na RTP, a verdade é que o novo modelo de “governança”, com um novo órgão a nomear a administração e a supervisionar o seu trabalho não provou ainda, como não podia provar, que é o melhor para resolver os problemas da RTP.
Como repetidamente tenho referido neste blog, os problemas actuais da RTP não são, ao contrário do que afirma o ministro Poiares Maduro, a dependência do governo. São sim, a falta de visão e de estratégia sobre o que é um serviço público audiovisual.
A constante transição de dirigentes – administrações e direcções – entre o sector audiovisual público e privado não permite criar nos trabalhadores da RTP uma consciência da diferença entre o que é o interesse público e o que são os interesses (e os gostos) privados de quem, momentaneamente está nos órgãos de direcção da empresa.
O Governo e o PSD precisam de se entender sobre os salários da administração da RTP. Não podem é aproveitar a empresa para se desresponsabilizarem de decisões tomadas por eles próprios.