A personalização das campanhas eleitorais na figura do líder era até há poucos anos uma estratégia própria dos regimes presidencialistas, nomeadamente usada nas campanhas presidenciais norte-americanas. A Europa seguiu esse modelo e hoje em dia também as campanhas para eleições legislativas, nas quais não está em causa a eleição de um presidente mas sim de um parlamento, adoptam a estratégia da personalização na figura dos líderes partidários.
Essa estratégia baseia-se em algumas regras simples: construir uma imagem apelativa do líder; enfatizar as suas características pessoais; criar eventos mediáticos e ocasiões para envolvimento pessoal do líder.
Tenha ou não feito parte de uma estratégia programada, o certo é que o PS nas últimas semanas investiu na personalização da campanha na figura do líder, António Costa, e a campanha socialista ganhou novo fôlego sobretudo a partir do debate com Passos Coelho onde Costa foi capaz de transmitir confiança, sensibilidade e proximidade às pessoas e aos seus problemas.
Ao contrário, a estratégia escolhida pela coligação, de uma campanha bicéfala (liderada por Passos e Portas) dificulta a personalização e a identificação dos cidadãos com a imagem de Passos Coelho que é de facto o líder da coligação. Acontece que Passos é (ou aparenta ser) frio e distante, ao contrário de Portas, mais dotado das características necessárias a uma campanha personalizada: sensibilidade, afectividade, proximidade. Passos tem dificuldade em “chegar às pessoas” mas sendo ele o líder a presença de Portas funciona como um elemento de comparação que desfavorece Passos em vez de o beneficiar.
Daí que, a meu ver, a estratégia eleitoral da coligação, referida como muito profissional e bem organizada quando comparada com a campanha do PS, em particular a ideia de que Passos Coelho deveria “fazer-se de morto” e envolver-se o menos possível na campanha, seja uma estratégia votada ao fracasso.
As campanhas são hoje muito moldadas à televisão e a personalização das lideranças é parte essencial do “espectáculo televisivo”. Ora, não há identificação possível dos cidadãos com um líder ausente.
O que podia ser visto pela coligação como uma mais-valia (por exemplo, cobertura jornalística com tempo a dobrar para os dois líderes) resulta numa despersonalização e desidentificação dos eleitores com o líder da coligação, Passos Coelho. A coligação parece estar agora a emendar o erro. Mas tirar Portas da frente de Passos parece mais difícil.
Até agora a coisa não tem resultado bem para o dão sebastião Costa!!