Parece um dado adquirido que o PS é o partido-chave de uma solução de governo. Para um partido que perdeu as eleições, cujo secretário-geral foi dado como o líder que sofreu a maior derrota, não deixa de ser irónico. Contudo, não sendo fácil, a posição de charneira em que se encontra permitirá ao seu líder, António Costa, fazer aquilo que melhor sabe: criar consensos, negociar políticas, dialogar à esquerda e à direita com os partidos e com os parceiros sociais.
Algumas das maiores dificuldades de António Costa surgirão talvez de dentro do seu próprio partido, como já se começou a ver com as declarações dos que pretendem desafiar a sua liderança. Esse desafio é normal e está na tradição de partidos políticos quando o partido é derrotado. Porém, quando António Costa desafiou António José Seguro este exigiu um longo período para preparação de eleições internas e de um congresso. Tempo demasiado longo, como foi unanimemente reconhecido. Porém, esse tempo foi cumprido.
No momento actual, em que o PS necessita de estar sintonizado na procura de uma solução para o País, seria incompreensível que aqueles que apoiam a substituição do secretário-geral se mobilizassem para pôr em causa a sua liderança, alimentando guerrilhas internas e externas e dificultando e enfraquecendo, perante os outros partidos e o Presidente da República, a sua capacidade de negociação, anulando a sua posição mediadora.
O Presidente da República veio esta noite impôr uma solução de governo que exclui liminarmente o Bloco de Esquerda e o PCP. Não que o tenha assumido claramente mas as condições que equacionou deixaram implícita essa exclusão. Com isso, o Presidente criou uma clivagem no País que o PS não pode aceitar sem discussão e como princípio.
É certo que o BE e o PCP vieram fazer exigências a António Costa para formação de um governo de esquerda como se detivessem eles o poder de negociação, passando por cima do facto indesmentível que foi a vitória da coligação PSD-CDS. Tratou-se mais de um ultimato ao PS do que de uma manifestação séria de procura de soluções.
Claramente, o PS não pode impôr ao País um governo chefiado por si tendo perdido as eleições e sem estar esgotada a possibilidade de a coligação tentar formar ela própria governo. Com este tipo de atitudes o BE e o PCP sugerem que estão mais interessados em “testarem” o PS para caso ele não ceda o acusarem uma vez mais de ser “de direita” etc., etc., do que em encontrarem soluções alternativas.
António Costa tem experiência e capacidade suficientes e testadas que lhe permitirão procurar, dentro do quadro traçado pelo Presidente para empossar um governo, pontes que passem também pelo BE e pelo PCP e não apenas pela coligação PSD-CDS. Abstraindo de questões como a saída do euro, a dívida ou o tratado orçamental, em que o acordo com o BE e o PCP é impossível, existirão pontos em que ambos os partidos se poderão juntar ao PS para forçarem a viragem necessária. Aí se verá então quem é capaz de aceitar as regras da democracia e de encontrar os equilíbrios que respeitem a vontade dos portugueses expressa em eleições.
Há momentos em que as decisões e as atitudes valem mais que as palavras. Os portugueses que votaram em cada um dos partidos à esquerda estão atentos e quererão saber se o seu voto foi apenas um voto de protesto ou se, ao contrário do que sugere o Presidente da República, o seu voto é também parte da solução.
O S O R R I D E N T E C O L U N I S T A D O E X P R E S S O
Todas as semanas vejo o seu sorriso de raposo matreiro. Leio as suas opiniões que até são, abstraindo a pretensão de superioridade intelectual que lhe são adjacentes, algumas vezes, interessantes. A da semana de 2 de outubro, foi uma das que não gostei. Não porque estivesse mal escrita, o Senhor escreve bem e sem erros, mas pelo pretensiosismo das suas opiniões. Depois de várias divagações necessárias para preencher e assim poder manter o espaço da coluna que conseguiu no Jornal, escreve em pretenso estilo zaratustriano – “ter sido a dupla Passos e Portas meros faxineiros da bagunça deixada pelo PS, tendo-se limitado a consertar o sistema socialista”. O comentário não está completo
O Governo socialista criou uma dívida insustentável. Quis emendar os erros cometidos. Com essa intenção, criou um Programa de Resgate Financeiro o PEC-IV. Que não chegou a ser testado por ter sido recusado pela Oposição. José Sócrates foi-se embora e veio o atual Governo. Ao qual não bastou a ajuda da Troika.
Abandonada a ideia do PEC-IV, concluiu que era necessário passar para o controle de privados, algumas das marcas e empresas emblemáticas existentes. A Coligação PSD/CDS, tornou-se, campeã na transferência do controlo do Estado para os privados. Por imposição da Troika, como argumentam, ou por incapacidade de resolver o problema de outro modo. É que a necessidade destas privatizações, sempre justificadas com os erros do governo anterior, levam a pensar que houve precipitação do actual no desejo de o substituir. Se foi para emendar os referidos erros que aceitaram essa incumbência, não se podem continuar a desculpar como o fazem, com uma má gestão herdada. Até porque tal raciocínio, lhes dá uma imagem de incompetência e irresponsabilidade, por terem aceite uma responsabilidade sem a terem estudado convenientemente.
Posto isto, e dada a bagunça em que se move a Coligação, também fico à espera de ver como a vão resolver.
Carlos Patrício Álvares
Luís Moreira, Costa formou ou vai “formar governo”? Isso é uma novidade para mim….Não estará você a ver fantasmas?
O que Costa nunca disse é que poderia subverter as regras da democracia, como formar governo quando foi o grande vencido das eleições e, ainda menos, juntar-se a dois partidos antieuropa e antidemocracia. E os incautos somos nós ?
Nem o exercício de estilo esconde o óbvio.Costa prepara-se para TRAIR o que disse durante a campanha eleitoral, que não viabilizava um orçamento da direita, e que não apoiava um governo minoritário da coligação . O resto é paleio para enganar incautos.