À beira de um ataque de nervos

Costa em BelémComo se esperava, António Costa manteve à saída da reunião com o Presidente da República, à qual compareceu sozinho marcando assim a natureza exclusivamente político-protocolar do encontro, o discurso que tem proferido sobre a procura de uma solução governativa estável, medindo as palavras e respeitando a regra de não se pronunciar sobre qualquer manifestação do Presidente relativamente a um eventual governo com apoio da esquerda parlamentar.

Durante o dia, as declarações de  Costa no final dos encontros com o Bloco de Esquerda e com o PAN, classificando ambas as reuniões de “muito interessantes”,  deixaram a direita e alguns sectores do PS  à beira de um ataque de nervos. Mas há também uma parte da esquerda que ainda não está bem em si, sobretudo não sabe o que há-de pensar, isto é, se Costa está apenas a “subir a parada” para aumentar o seu poder negocial com a coligação PSD-CDS ou se, efectivamente, está disposto a inviabilizar um governo de direita e a avançar com um governo minoritário com apoio parlamentar do PCP e do Bloco.

A estratégia parece estar a resultar, já que segundo o Expresso e o Observador, «PSD e CDS escolheram “mais de 20” propostas do programa do  PS, que admitem agora serem “compatíveis” com a sua estratégia. Mas abrem a porta a outras ideias de Costa.»

Costa parece interpretar o momento actual como um momento histórico, no sentido em que, pela primeira vez, tem à sua frente a oportunidade única de formar um governo que corta com a tradição de governos de direita com ou sem apoio do PS.

A determinação que Costa mostrou até agora sugere que não tem medo de uma solução nunca experimentada em Portugal e que está disposto a arriscar o seu lugar de secretário-geral do PS se essa solução falhar. Costa está a  fazer história e com ele também o PCP mostra que percebeu que é hora de assumir riscos saindo da posição de isolamento em que se encontra desde 1974.

Imersos num ambiente mediático em que a direita é dominante ao nível da indústria do comentário, que hoje em dia ultrapassa largamente em capacidade de influência os jornalismo profissional, muitos portugueses  vacilam entre confiar em António Costa acreditando que ele está a fazer o que pensa ser o melhor para o País e que tomará a decisão certa quando a situação estiver clarificada, ou alinhar com os velhos do Restelo que nos media exibem o papão da Europa, da troika e dos mercados para impedirem um governo com apoio do PCP e do Bloco, agitando o papão dos comunistas que “comem criancinhas ao pequeno almoço”.

Seja qual for o resultado das diligências levadas a cabo por António Costa na procura de uma alternativa que integre o PCP e o BE e as consequências que daí resultarem para o seu futuro político, Costa não teve medo e ousou tentar dar a Portugal uma solução que nos países europeus é praticada e vista com normalidade por todos os democratas.

 

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6 respostas a À beira de um ataque de nervos

  1. Joé Botelho Colaço diz:

    Porque motivo a aliança de direita faz tantas cedências ao Ps .. Será que tem medo que lhes encontrem o local das armadilhas que montou durante o seu governo 2011/2015.

  2. Manuel Sousa diz:

    È de lamentar, mas ninguem aprende com o passado, nem sei para que existe o livro de história, O PS já chamou 3 vx a Troika, gasta o que não tem, leva o pais á banca rota, dá chupetas a qk pessoa, vem o outro que é obrigado a tirar, somos um povinho de M…. isto é tudo igual. Eu se fosse o Passos Coelho, nem iria abrir mão de nada do programa que ele tem, simplesmente dizia, esquerda para o poder, isto de andar a brincar com o povo já chega..Acho que tem limites, se querem brincar vão para a creche como a minha filha. Já votei no António Guterres, fez o que fez e não controlou as contas, votei no Durão e esse já dizia que o pais estava de Tanga…de TANGA…para quem não se lembra, bazou e aproveitou o cargo que ofereceram, até ai qualquer um de nós fazia a mesma porcaria. Votei no Santana para seguir o programa do Durão, enfim la veio o Presidente Sampaio dissolver….Veio o Socrates de 70 mil milhoes põe Portugal em tempo recorde nos 120mil milhoes de divida e a dar ao povo que não trabalha chupa chupas e construir estradas e mais estradas…Afinal o que se aprendeu com o PS …eu digo-vos …nada de nada porque o Portuga gosta de levar na bilha e quanto mais se deve mais o povo gosta… Austeridade tem de haver quer gostamos ou não….se este adiantou o processo para pagar mais rápido ainda bem, porque nós aguentamos e não venham com coisas por causa do desemprego, já todos nós sabemos que iria acontecer de algum modo, nós gostamos é tapar os olhinhos, fim de contas nós gastamos mais e não damos valor ás coisas. Se acham que o Costa vai fazer diferente, não se esqueçam que ele assinou o programa, austeridade irá continuar por mais 15 anos, e se vai feito TOTO mais o BE e PCP, partidos radicais e agora baixaram as orelhinhas e depois vão falar com os credores …. lembram-se da grécia, não deu em nada e o povo ainda ficou com o buraco maior. Todos querem subir ao poleiro, eu se fosse o Cavaco faria uma coisa simples.Caso o PS junta-se com o BE ou PCP, faria a 2ª volta das eleições e ai o povo votava em quem queria mesmo governar e assim seria bem democrático, o povo ordenava que fosse o governo PSD/PP ou PS/BE ou PS/PCP…. Que acham da ideia?????? Fica a pergunta no ar

  3. Vicente Silva diz:

    A grande a espectativa reinante sobre o resultado destas ” démarches ” em curso de Costa, não obstante as enormes pressões a que se encontra sujeito, não só por esta retrógrada e ignorante direita portuguesa mas também pela sua congénere europeia faz dele o político do ano, podendo mesmo vir a ser o principal protagonista de uma nova forma de fazer política em Portugal.
    E a direita. confusa e aterrorizada, de cedência em cedência e aceitando as propostas do PS liminarmente rejeitadas arrogantemente por uma coligação com maioria absoluta durante quatro anos, mostra bem a sua impreparação para governar numa democracia representativa como a nossa Constituição prevê.
    Por outro lado, seria desejável que o PC e BE tivessem aprendido a lição e se assumissem como parceiros credíveis em qualquer coligação por que optassem, trocando a sua vocação contestatária pelo exercício do poder quando as circunstâncias o exijam; só com esta postura poderão conquistar a credibilidade para que, a médio prazo, não desapareçam numa noite de nevoeiro. Estamos, em suma, num momento único para inverter o ciclo do jamais que fastidioso “círculo da governação “. Que a maioria dos deputados eleito saibam aproveita-lo.

  4. Joe Brandoa diz:

    Se partido nenhum, até hoje, cumpriu a maioria das promessas eleitorais ou os programas partidários, que é lá isso de quem vota sabe ao que vai? E quem é que, em 2011 ao votar PSD e CDS tinha uma coligação totalitária em vista? E as troikas sempre serão inventadas quando a banca e a finança local e boçal comer mais do que a barriga aguenta, para assustar o pagante e aliviá-los das poupanças. Pá!

  5. Tres bancas rotas ditadas pelas politicas dos mesmos, talvez seja hora de mudar e dar esperanca a este povo

  6. cristof9 diz:

    Se nos tornar um país da UE normal (onde não há fronteiras entre partidos) só podemos saudar estas novas posições do PCP e BE. Teria sido mais limpo terem afirmado isso antes, para quem vota saber ao que vai, mas não deixará de ser uma excelente melhoria da democracia.
    E o papão dos mercados, se começarem a siryzar demais, nada como chamar a troika e por a economia nos eixos ; prática é o que mais temos; após três banca rotas não é nada que nos assuste muito.

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