Ódio e preconceito

Henrique Raposo excertoQuem diria que após 41 anos de democracia  haveríamos de ler textos com frases cheias de ódio e de preconceito no semanário mais antigo do País?

Seria difícil de perceber se não tivéssemos nestes dias assistido a explosões de raiva vindas de quem não compreendeu o que se passou no dia 4 de Outubro passado. Custa a crer que tantos pensassem que elegemos um parlamento mas que esse parlamento só nos representa se a configuração que ele assumir, como resultado do nosso voto, nos agradar. Ora, a democracia não funciona assim.

Verdade seja dita que  o próprio Presidente da República pareceu, na sua primeira declaração pós-eleitoral, não compreender a Constituição que lhe cabe cumprir. De facto, com a intolerância e a crispação que demonstrou, ao arredar alguns partidos parlamentares de uma solução governativa, acicatou ódios e criou as condições em que agora fervilham e frutificam posições como  esta de Henrique Raposo, publicada no Expresso diário desta 4.ª feira. Raposo não é o único, no Expresso e noutros jornais a usarem o espaço de que dispõem para venderem textos de ódio e preconceito travestidos de análises.

É natural que muitos pensem que a coligação, tendo ganho as eleições, devia governar. Mas a coligação não foi capaz de negociar apoio parlamentar para o seu governo e nenhum dos partidos que o rejeitou era obrigado a dar-lhe apoio. Isto, que parece tão claro, não entrou ainda em muitas cabeças. Pode criticar-se Costa e o PS por terem escolhido o PCP e o Bloco para construir uma solução alternativa à coligação. Mas não pode, como tem sido dito e escrito por ignorância ou má fé, afirmar-se que um governo liderado por António Costa e pelo PS, enquanto segundo partido mais votado,  carece de legitimidade política. Não carece, porque a legitimidade é conferida pela Constituição, pelo Parlamento que emana do voto do povo que deu a maioria aos partidos que rejeitaram o governo da direita.

Verdade se diga que o comportamento dos deputados da coligação no debate parlamentar do programa do seu governo teve tiques anti-democráticos e roçou algumas vezes a boçalidade. E que Paulo Portas não teve a atitude que a sua experiência política política e jornalística exigiam. Não soube perder, insultou o seu opositor, chamando-lhe “pirómano” e (indirectamente) “bêbado”, prometendo esperar pela “ressaca da bebedeira”.

Passos foi mais comedido e talvez ele seja capaz de, pelo menos, apaziguar a fúria das suas hostes fazendo alguma pedagogia contra a iliteracia constitucional dos seus apoiantes. Espera-se também que seja qual for a decisão que o Presidente venha a adoptar não lance ainda mais gasolina na fogueira.

Esta entrada foi publicada em Assembleia da República, Comunicação e Política, Governo, Imprensa, Política com as etiquetas , , , , , , . ligação permanente.

5 respostas a Ódio e preconceito

  1. cristof9 diz:

    Tem toda a razão. A esquizofrenia anti esquerdalhada, parece saida duma catacumba de expoliados. Muita gente que escrevia excelentes artigos de opinião anda com uma dor de corno, que já nem escrever bem conseguem. Fico espantado!!

  2. nuno diz:

    De http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/2015/11/ha-40-anos-um-cerco-ar-amanha-nao.html interessa:

    “A PàF começou ontem uma pós-campanha eleitoral pelo país, registei, e guardo para memória futura próxima, que Paulo Portas pediu, em Setúbal, apoio à “maioria silenciosa” e que houve quem sugerisse que a direita descesse à rua. Serão palavras vãs? Não tenho qualquer certeza.

    Por tudo isto, e por muito mais, era bom que as «esquerdas» estivessem preparadas para o que pode por aí vir, mais depressa do que possamos hoje pensar e, eventualmente, que antecipassem iniciativas. A rua, não só mas também ela, espera pelos partidos que estão num dos lados da barricada e pelos cidadãos que os suportam neste momento de esperança (e não, não é, nem deve ser, a CGTP a liderar o processo).”

  3. Abraham Chévre au Lait diz:

    Quem não se lembra do General Mc Arthur ,quando os japoneses o obrigaram a sair das Filipinas ? Último a entrar na última lancha,voltou-se para trás e disse: I shall return!!! Não foram precisos mais discursos,gritos,birras ou raivas… que lição para estes tagarelas boçalíssimos!

  4. Mada diz:

    O Paulinho da feiras não quer largar o tacho. Acha-se o supra sumo da politica. Aldrabão xxxxx como os demais . Escuda-se nas funções para não ir a julgamento. O processo dos submarinos não deve ser esquecido. Talvez o Espirito santo venha um dia contar quem recebeu as luvas. A revanche serve-se fria, assim como a vichisoise!

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.