Em tempo de balanços do ano de 2015 vale a pena recordar alguns acontecimentos cuja magnitude não pode deixar de ser assinalada. É o caso, entre outros, a nível internacional, dos atentados terroristas por esse mundo fora, na Tunísia, no Quénia ou em Paris; do piloto suicida que matou 150 pessoas nos Alpes franceses; do drama dos refugiados que fogem da guerra e aos quais a Europa não sabe como ajudar; das contradições e prepotências dos programas de austeridade impostos pelas instituições europeias que constituem a troika, em países como a Grécia e Portugal, vergando ou humilhando os respectivos governos e os cidadãos desses países.
Na política nacional, o acordo histórico firmado por António Costa com o Bloco de Esquerda e o PCP há-de ficar na história como um salto qualitativo no aprofundamento da democracia portuguesa, qualquer que seja a sua duração e quaisquer que sejam os escolhos que surjam no seu caminho. António Costa foi, por isso, justamente escolhido por muitos media nacionais como a “personalidade do ano”.
Mas eis que nestes dias que ainda faltam para 2016, mal António Costa chegou ao governo, os portugueses descobriram que o governo PSD-CDS deixou um campo minado. Julgando pisar terra firme, o novo governo viu soltarem-se minas e armadilhas.
O descalabro do Banif aí está e a factura que apresenta ameaça a nossa esperança e desafia a nossa capacidade de aceitar que tenhamos de pagar a incompetência do governo anterior, do Banco de Portugal, dos administradores e gestores do banco e de todos aqueles que por acção ou omissão esconderam a situação e não tomaram em devido tempo, as decisões que se impunham.
E temos as mortes por falta de assistência, diria, por incapacidade de quem tem a responsabilidade de tomar decisões e encontrar soluções, como a do rapaz de 29 anos com um aneurisma que ficou por tratar e o idoso com um AVC que não encontrou hospital que o recebesse a tempo. Ambos morreram, mas eles são apenas dois casos que se tornaram visíveis, enquanto muitos outros não chegaram aos media e por isso é como se não existissem ou existissem apenas para os seus próximos.
Não é possível continuar a ter em lugares de responsabilidade pública pessoas que em situações e momentos determinantes não são capazes de fazer escolhas adequadas e de assumir responsabilidades, desculpando-se com “cortes orçamentais” ou argumentos que existem em todos os sectores. Quem não é capaz de definir prioridades e encontrar soluções para as áreas de que é responsável ou em que lhe cabe alguma parte da decisão deve deixar o lugar a quem possa desempenhá-lo convenientemente.
E àqueles que têm o dever de escrutinar os poderes, desde o poder do mais modesto chefe de secção de um serviço ou empresa públicos até ao do mais alto governante, seja ministro, gestor ou banqueiro, temos de perguntar porque não denunciaram a tempo que questões tão básicas como o direito à assistência médica num hospital público e a boa gestão dos dinheiros de um banco com maioria do capital público, não estavam a ser asseguradas e, pelo contrário, estavam entregues a quem não tinha competência para as resolver.
Do novo governo espera-se uma cultura de transparência, exigência e responsabilidade em todos os níveis da administração pública, para que os portugueses não venham de novo a ser surpreendidos com novas minas e armadilhas.