De repente, parecia o cenário de um debate em eleições americanas. Mas não, era Portugal e a RTP. A RTP inovou e fez bem. Os candidatos alinhavam-se em tribunas colocadas no palco, frente aos moderadores, com o público sentado atrás destes e de frente para os candidatos. É muito positivo que a RTP tenha organizado este debate com todos os candidatos e que o tenha transmitido no horário nobre. É o primeiro e o único debate televisivo com todos os candidatos (apesar da ausência de Maria de Belém, devido à morte de Almeida Santos).
Porém, este podia ter sido um debate mas não chegou a sê-lo. Porque um debate não é uma sucessão de perguntas soltas e diferentes dirigidas a cada um dos candidatos, sem sequência nem contraditório entre eles.
Um debate é uma discussão entre “debatentes” que expõem as suas opiniões sobre um conjunto de temas comuns. Num debate há confronto de opiniões e ao moderador cabe lançar os temas e assegurar que cada participante tem oportunidade de apresentar os seus pontos de vista e rebater outros. Um debate não é uma discussão entre o candidato e o moderador mas entre candidatos. Isso é uma entrevista (ou várias entrevistas em simultâneo).
Neste debate houve pouco debate mas houve muitas perguntas sobre muitos temas e muitas opiniões. Algumas vezes, um ou outro candidato quis voltar atrás e comentar a resposta de outro candidato antes de responder a uma pergunta que lhe tinha sido feita a si. Raramente existiu um tema central, comum, que suscitasse uma discussão sobre o modo como perante esse tema cada candidato actuaria no papel de Presidente. Esteve perto disso, já na parte final, com os temas Europa, as 35 horas de trabalho e as subvenções vitalícias a políticos. Mas mesmo aqui, não chegou a haver verdadeira discussão.
No debate dos 10 candidatos na Antena 1 a estratégia foi diferente. As questões eram mais directamente ligadas às funções presidenciais e todos os candidatos foram questionados sobre as mesmas questões. Não havia, como houve neste, uma pergunta para um candidato, outra para outro e assim por diante. Isso permitiu à moderadora da Antena 1 um controlo maior do tempo de cada um, sem desvios para outros temas quando algum candidato não respondia ao assunto colocado.
Os moderadores da RTP, Carlos Daniel e Vítor Gonçalves, escolheram talvez a dispersão de perguntas, mesmo assumindo a inevitabilidade de essa escolha levar a pequenos monólogos, possivelmente para abrangeram um maior número de temas. De qualquer modo, conseguiram coordenar as suas intervenções sem atropelos nem interrupções excessivas.
Finalmente, nas perguntas iniciais do debate da RTP os moderadores tentaram surpreender os candidatos com questões mais informais e menos políticas. Porém, as diferentes questões colocadas a cada candidato não eram de molde a contribuir para conhecer um pouco melhor a experiência, a cultura, o conhecimento do País, a formação cívica, o carisma de cada um dos candidatos, qualidades que embora importantes na avaliação de candidatos ao cargo de Presidente da República não são susceptíveis de análise num debate televisivo com tantos participantes. Esse seria mais um trabalho de background para fazer fora do écran.
Embora sem revelações ou novidades, também devido ao facto de os candidatos estarem muito presentes na informação diária em rádios, televisões e jornais, o debate da RTP foi um debate distendido, com algumas situações de boa disposição graças a intervenções do candidato Vitorino, conhecido por Tino de Rans. A sua simplicidade, modéstia e genuinidade são desconcertantes, sobretudo quando comparadas com tiques de arrogância e maledicência de outros, supostamente mais “eruditos”.