A manchete do Expresso deste sábado e as reacções que provocou no campo jornalístico e no campo político são bem um exemplo do estado em que se encontram estes dois importantes pilares de um Estado democrático e pluralista. Comecemos pela manchete do Expresso: A manchete é simplista, enganadora e sensacionalista e não encontra sustento no texto a que respeita, publicado no interior do jornal. Desde logo, porque a frase “exclui vitimas de Pedrógão” pressupõe uma acusação aos responsáveis pela elaboração da “lista dos 64 mortos”, leia-se o governo. A palavra “vítimas” no plural insinua que serão várias e não apenas uma pessoa que foi atropelada, incluída pelo Expresso nas “vítimas de Pedrógão”. O Expresso claramente jogou com a ambiguidade da frase “vítimas de Pedrógão” talvez para poder dizer que não escreveu “vítimas dos incêndios”.
O caracter sensacionalista do título torna-se ainda mais evidente quando o próprio jornal no texto das páginas interiores conclui que a sua lista de vítimas corresponde à lista oficial. Leia-se aqui.
A manchete teve enorme impacto nas redes sociais, com jornalistas e responsáveis políticos do PSD e do CDS a cavalgarem a acusação, possivelmente sem leram o seu desenvolvimento. A Protecção Civil veio esclarecer que o número de vítimas se mantém em 64 mortos e que os critérios de elaboração da lista – “mortes por inalação e queimaduras” – foram definidos pelo Instituto de Medicina Legal. Os jornalistas não se deram por convencidos e o primeiro-ministro veio a público considerar que o caso “está esclarecido” remetendo para os dados da Protecção Civil e dos ministérios da Saúde e da Justiça.
É chocante verificar como a tragédia de Pedrógão está a ser instrumentalizada política e mediaticamente. O PSD e o CDS nem tentaram informar-se sobre os critérios de elaboração da lista (Assunção Cristas chegou a dizer que não sabe quais são os critérios depois dos mesmos terem sido revelados pelo próprio Expresso). Se o tivessem feito teriam percebido porque é que o atropelamento de uma pessoa em fuga não entrou no número de vítimas dos incêndios.
E assim temos que a tragédia de Pedrógão para além das vítimas que causou está a provocar a tabloidização da política e do jornalismo.
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“Tabloidização!”. Porque não escrever politização e que não de agora após os incêndios de Pedrógão?
Porque, basta ver e ler com atenção essa coisa que se apelida de tabloidização para se constatar, à la minute, que tabloidização=politização. E politização da mais elevada e perniciosa para uns e da mais descarada e benéfica para outros.
A tabloidização é a forma de fazer alta política baixa a favor dos possidentes sob a capa do defensorismo do povo, do amiguismo do povo, do justicialismo do povo, e de tudo pelo povo em proclamação para o conduzir mentalmente e levá-lo à submissão e servidão voluntariamente.
A tabloidização é uma das formas mais eficazes e por tal mais usadas pelos defensores de políticas de tiques anti-democráticos e fascisantes que usa e dramatiza a liberdade e conflito de ideias na Democracia para a culpar dos males existentes enquanto esta tolera e deixa andar sem combater com uma eficácia equiparada.
Hoje em dia, poucos meios de comunicação em Portugal não jogam e apostam na tabloidização numa ajuda insolente à vinda do tal desejado e esperado diabo.