Há uns anos, quando as estratégias de comunicação política e o news management eram menos sofisticados do que são hoje e os governos queriam testar o efeito de determinadas medidas antes de decidir aplicá-las usavam “fugas de informação orientadas”, normalmente através de jornalistas bem colocados na hierarquia do jornal escolhido para a publicação da “notícia” que se pretendia testar. Se as reacções fossem más, desmentia-se a “notícia” e adiava-se para outra altura ou esquecia-se. Se fossem assim assim, avançava-se com a medida. O exemplo mais típico era o aumento do preço da gasolina mas havia outros. Chamava-se a isso lançar “balões de ensaio”.
O balão de ensaio, parecendo uma técnica um pouco primária, tem as suas regras. Uma delas é não ter rostos visíveis nem vozes para citar, para poder ser desmentido no caso de provocar rejeição.
Vem isto a propósito das medidas anunciadas por representantes do “grupo de reflexão” “Mais Sociedade” apresentado como encontrando-se a preparar propostas para o programa eleitoral do PSD. Entre essas propostas encontra-se a “Redução de pensões de reforma em caso de desemprego “ que provocou fortes reacções negativas “obrigando” o secretário-geral, Miguel Relvas, a demarcar-se dela e a afirmar que não é do PSD sendo apenas uma proposta do citado “grupo de reflexão”. O caso teve antecedentes noutras propostas, retiradas após críticas negativas, das quais o aumento do IVA é, talvez, a mais polémica.
Ora, as propostas do grupo “Mais Sociedade”, destinando-se aparentemente a funcionar como balões de ensaio, têm vozes e rostos e essas vozes e rostos são associados ao PSD (sendo por este assumidos como tal) pelo que, nessa medida, o PSD não as pode desmentir. O mais que pode é demarcar-se delas, como faz, porém sem conseguir anular o efeito que produziram dada a mediatização que obtiveram precisamente por serem associadas ao PSD.
Isto é, o PSD criou o grupo de reflexão “Mais Sociedade” permitindo que os seus membros ganhassem protagonismo e anunciassem medidas destinadas a ser aplicadas pelo próprio PSD e depois vem demarcar-se daquelas que provocam rejeição e polémica. Em termos de comunicação política é tudo o que não deve ser feito. Com a agravante de esses erros primários serem cometidos em período eleitoral.
Como notado aqui, o PSD necessita urgentemente de afinar e profissionalizar a sua estratégia de comunicação.
mais uma vez na mouche…
parabens e obrigado
abraço