O coronavírus não é o fim do mundo. Mas pode ser o fim de muitas vidas. Nestas duas frases cabem todas as reacções a que temos asssistido:
- Cabe o alarmismo da comunicação social não apenas porque faz parte do seu ADN valorizar as notícias más em detrimento das notícias boas mas também porque é preciso alimentar constantemente os fluxos informativos e criar nos cidadãos ansiedade e dependência de notícias.
- Cabe o optimismo do Presidente Marcelo ao manter o ritual dos beijos e abraços como sinal de que tal como ele próprio podemos continuar a ser como sempre somos e a fazer o que sempre fizemos.
- Cabe a confiança na capacidade do governo para equacionar as prioridades e garantir aos portugueses que serão tomadas as decisões necessárias para proteger a saúde e o bem-estar de todos os cidadãos.
- Cabe a serenidade da directora-geral de Saúde, Graça Freitas, que sem esconder a ameaça de expansão do vírus nos sossega com a certeza de que podemos confiar no SNS e nos seus profissionais.
- Cabe a procura de visibilidade mediática por parte dos líderes partidários ao aproveitarem a ansiedade dos cidadãos para darem opiniões e conselhos nem que seja para fazerem prova de vida.
- Cabe o criticismo crónico da ordem dos médicos que dizendo que não quer alarmar os portugeses vai dizendo que o país não está preparado para uma pandemia do coronavírus.
- Cabe o pânico do turismo, da hotelaria, dos mercados e da economia em geral.
- Cabe o optimismo dos que banalizam a situação e olhando as estatísticas de outras gripes acham que vamos todos sobreviver.
- Cabe o pessimismo dos que têm medo de sair à rua e só pensam em comprar mantimentos, máscaras e desinfectantes.
- Cabe enfim a estranheza dos que se interrogam sobre a incapacidade da ciência e da técnica para enfrentar um vírus desconhecido, com um tão grande potencial ameaçador e destruidor das nossas certezas.
O coronavírus é também uma oportunidade para nos conhecermos melhor e descobrirmos formas de lidar com o medo e a esperança.