Em Portugal existe uma enorme promiscuidade entre jornalistas e fontes ligadas às autoridades judiciais e policiais. Essa promiscuidade está patente nas notícias que, de vez em quando, surgem nos média sobre suspeitas envolvendo figuras públicas geralmente da política ou do futebol.
São geralmente notícias baseadas em fugas de informação organizadas pelas autoridades que têm em mãos determinados processos que sabem de antemão merecerem acolhimento nos média dado o potencial de escândalo que encerram. Umas vezes, essas fugas traduzem vinganças pessoais contra pessoas ou instituições. Outras vezes, representam uma forma de “recompensa” para com um órgãos de comunicação social que acolheu uma noticia “boa” ou que “esqueceu” uma menos “boa”. Qualquer que seja o objectivo que essas autoridades perseguem fazem-no às escondidas, sabendo que raramente serão punidas e não desconhecendo que a “etiqueta” de “suspeito” colada a uma pessoa tem sempre conotação socialmente negativa.
Certos jornais e televisões dão guarida a todo o tipo de “suspeitas”. Outros só a algumas. As “fugas organizadas” escolhem os meios de comunicação social consoante o suspeito pertença ou não à categoria de “peixe graúdo”.Desta vez foi o Benfica a ser alvo de uma dessas fugas, em notícia de primeira página do Diário de Notícias desta sexta-feira. “Jorge Jesus é um dos principais alvos de uma investigação da Polícia Judiciária .”Alegando que as notícias lesaram a sua imagem, o Benfica pediu à direcção da Judiciária para abrir um inquérito a uma suposta violação do segredo de justiça, mas o director nacional reencaminhou pedido para o DIAP de Lisboa.
Jorge Jesus, visado directamente nas notícias, reagiu afirmando que “não há desmentido que corrija o prejuízo moral que já causaram” aquelas notícias, “mas os tribunais, ainda que daqui a muito tempo, irão, seguramente, penalizar” os seus autores.
Este não é, naturalmente, o único caso de mediatização de suspeitas sobre figuras destacadas do futebol. Outros protagonistas do desporto têm-no sido também. Todos nos lembramos das notícias sobre o Apito Dourado em que, entre outros, Pinto da Costa foi acusado de corrupção activa vindo depois a ser absolvido.
Enquanto o poder judicial continuar a “pingar” suspeitos para os jornais e para as televisões, cuja culpabilidade em grande número de casos não é depois capaz de provar, continuaremos a surgir nos rankings internacionais sobre corrupção – baseados nas percepções dos portugueses formadas a partir das notícias publicadas nos meios de comunicação social – como pertencendo ao grupo dos países mais corruptos.
A política e o futebol são em Portugal os maiores fornecedores dessas estatísticas. Ao menos, a alimentar jornais a nossa justiça não é lenta.