A riqueza dos nossos governantes

As notícias sobre o património dos membros do Governo encontram-se entre as mais lidas das edições online dos jornais . Os portugueses sabem agora quem são os ministros mais “ricos” e em que consiste a respectiva riqueza e também quais os menos “ricos”, já que ministros “pobres”, propriamente, não há. E ainda bem, porque  governantes com um  património  razoável dão mais garantias de  não estarem no Governo para aumentar o seu património, tanto mais que se ficou também a saber que alguns dos ministros irão até perder rendimentos. Os “mais ricos de Portugal” devem concluir, destas notícias, que temos um governo de “pobretanas”.

Os dados que têm sido divulgados mostram também que os ministros que antes eram deputados são os menos “ricos”, o que prova que não é na política – sobretudo não é no Parlamento – que se ganha dinheiro, pelo menos no que respeita a vencimento, uma vez que também há casos em que deputados obtiveram  rendimentos interessantes em “trabalho independente”.

Os cínicos dirão que mesmo perdendo dinheiro ser membro do governo é um investimento a prazo, uma vez que em Portugal é relativamente frequente alguém sair do governo e entrar depois na administração de uma empresa que esteve sob sua tutela enquanto foi governante.

As notícias sobre o património dos governantes e detentores de cargos públicos produzem nos cidadãos a ideia de que a transparência se esgota e se evita a corrupção com a divulgação destas  listas à entrada e à saída dos cargos, sem um órgão ou uma instituição que investigue, por exemplo, no caso de ex-membros de governos,  a evolução do seu património entre a última saída de um governo e a entrada noutro governo.

E, contudo, como bem sabem aqueles que se dedicam ao estudo destas matérias, existem mil e uma maneiras, não traduzíveis directamente em bens patrimoniais, de influenciar decisões em benefício próprio. As declarações de património servem mais para estimular o voyeurismo e a inveja do que para cultivar a transparência e evitar a corrupção.

Aliás,  não é apenas aos membros do governo e aos que exercem cargos públicos que deve ser exigida transparência. Mas isso é matéria para outra ocasião.

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Uma resposta a A riqueza dos nossos governantes

  1. Anónimo diz:

    É importante que haja quem analise estes problemas com a racionalidade que parece cada vez mais escassa em Portugal

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