Os bifes da senhora Jonet

Causaram escândalo nas redes sociais as declarações da presidente do Banco Alimentar contra a Fome, Isabel Jonet,  à SIC Notícias, num painel moderado por Ana Lourenço, em que participavam também Manuela Ferreira Leite e Rui Vilar.

As declarações de Jonet são um exemplo de como a exposição em televisão, mesmo em formatos aparentemente favoráveis aos participantes – como é aquele espaço de debate em que os convidados podem expôr o seu pensamento sem a pressão do tempo – pode “matar” a reputação de uma pessoa.

Isabel Jonet não pertence à “classe” política, o que significa que as suas intervenções públicas não são habitualmente sujeitas ao exigente crivo de análise que é usado para as intervenções dos políticos. Pelo contrário, Jonet é (era?) vista com simpatia pela generalidade das pessoas pelo seu papel à frente de uma instituição de alto valor humano e social.

Mas nestas declarações à SICN Isabel Jonet expôs todo um programa político em defesa da política do empobrecimento dos portugueses e da teoria do “viver acima das possibilidades” com o argumento de que em Portugal não há miséria.

Se, como disse,  os seus filhos “lavam os dentes com a água a correr”, não é porque “perdeu-se a total noção do que é o custo de oportunidade”, mas simplesmente porque  a mãe não lhes diz para usarem um copo de dentes.

Outras ideias  como  “ou vamos a um concerto de rock ou vamos tirar uma radiografia”, e se não temos dinheiro para comer bifes todos os dias, não comemos bifes todos os dias. E esse empobrecimento é porque comemos bifes todos os dias e achávamos que podíamos comer bifes todos os dias e não podemos”, revelam uma visão elitista e classista de que os pobres não têm direito a comer bifes. 

Mas sobre bifes, a senhora Jonet está enganada. Possivelmente porque em sua casa só se comem bifes do lombo de vaca ou de vitela.  Esses sim, são caros e não chegam a casa dos pobres.

Mas há bifes de outras partes da vaca ou da vitela e também de carnes de outros animais – perú, frango, porco – que são baratos e possuem valor nutricional idêntico.

E se a carne não for  tenra, há sempre a possibilidade de a “passar pela máquina” e fazer um hamburger…

A senhora Jonet afinal não conhece a vida e a alimentação dos pobres….Também é verdade que ninguém no painel da SIC Notícias, incluindo a moderadora, contrariaram o seu discurso ou a confrontaram com a ideologia que lhe está subjacente. A tolerância para com o pensamento dito “não político” permite alarvidades como estas, ditas sem contraditório…

Isabel Jonet usou mal o tempo de palavra de que dispôs na SIC Notícias. Talvez muitos dos que a ouviram, quando encontrarem nos supermercados os jovens do Banco Alimentar com os sacos  e a lista de compras recomendadas, se lembrem de que a presidente acha que os bifes são só para alguns…

Isabel Jonet prestou um mau serviço à causa do Banco Alimentar contra a Fome. Mais valia ter estado calada!

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6 respostas a Os bifes da senhora Jonet

  1. Cara Maria do Carmo, leviana foi a maneira como Isabel Jonet falou da fatalidade do empobrecimento que em sua opinião é destino dos portugueses. A mensagem que a senhora passou é triste e perigosa porque traz ainda mais desânimo e desesperança aos portugueses. Alguém que possui as suas responsabilidades devia pensar duas vezes no que diz e parece não ter sido o caso.

  2. Maria do Carmo diz:

    Avaliar o percurso de pessoas como a Dra. Isabel Jonet de forma tão leviana retirando de um comentário elaçoes sem se entender o alcance do mesmo só tem razão de ser quando somos capazes de fazer melhor porque senão corremos o risco de sermos julgados pela mesma bitola e outros pensarem que afinal o que nós pretendemos é justificarmos a nossa indiferença pela necessidade que muitas pessoas têm da ajuda anual que a instituição lhes proporciona

  3. Fred diz:

    Mas meus amigos esta senhora esta a demosntrar na janela de oportunidade que o país atravésa a sua veradeira indentidade, nos tempos que todos nós pensavamos que tinham passado as senhoras de outrora davam sopinha e macinhos de cigarros aos pobretanas, assim conseguiam limpar a alma perante o Criador. Será que esta pessoa alguma vez algo de coração ou teve algo por detrás que um dia venha a saber que afinal….Eles estão adespontar a sua verdadeira humanidade e caracter, não é por acaso com este leque que estes midseráveis que estão no governo começaram a fazer renascer as identidades que andaram encapotadas durante este tempo todo. Talves essa pessoa seria melhor pertencer a uma ordem qualquer e deixar a instituição até porque muito tempo na mesma cena cria maus hábitos, maas como a vergonha é zero deixar o poder não muito obrigasa.

  4. João d'Arnes diz:

    Tenho correspondido sempre aos peditórios da Banco Alimentar. Provavelmente, no futuro (por exemplo já no próximo peditório, em 1 e 2 de Dezembro, próximos), não o poderei fazer porqur tal despesa “passou” a estar acima das minhas possibilidades.

    É desanimador irmos conhecendo como funcionam algumas destas organizações, ou como pensam os seus responsáveis, com a sua famigerada caridadezinha.

    Já não nos bastava ter sabido há alguns anos que o que dávamos para a Liga Portuguesa Contra o Cancro, se destinava também a financiar passeatas de médicos, a pretexto de congressos no estrangeiro, ou a oferecer jantares de despedida, incluindo prendas para os “despedidos”.

    Ou a saber que a AMI, do Sr. Nobre, era afinal um Centro de Emprego para a sua família.

    O que virá a seguir?

  5. Vicente Silva diz:

    Eu,que até tinha em consideração a senhora Isabel Jonet,deixei de a ter após ouvir as infelizes declarações por ela proferidas.
    Não sei nem quero saber da ideologia que a senhora defende mas é chocante que uma alta individualidade de um organismo vocacionado para o combate à fome se manifeste publicamente, em termos tais, que mais parecem um convite aos que ainda o não são de todo, para aceitarem com resignação o rumo do empobrecimento.
    É triste,senão repugnante,que os mais altos responsávies de um país,sendo eles políticos ou não, esqueçam voluntária ou involuntàriamente os limites mínimos da dignidade humana ao ponto de esta ser aferida pela qualidade do bife que comem ou deixam de comer.
    Até quando “o melhor povo do mundo” aguentará estas receitas?

  6. Victor diz:

    Um muito mau serviço. Por mim, que até prestei serviço como voluntário nas recolhas, esta instituição não conta mais comigo, enquanto esta senhoreca por lá andar. A entrega de alimentos pode ser feita numa série de associações. Considero importante esvaziar o “balão” desta senhoreca, que mostra assim confundir solidariedade com caridadezinha. Infelizmente o tempo parece estar para esta gentalha (Jonet; Ulrich;…) mandar umas “patacoadas”.

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