Descodificando a língua de pau do ministro das Finanças

Os franceses chamam-lhe langue de bois e definem-na como “uma forma de expressão que, especialmente em matéria política, visa dissimular uma incompetência ou uma reticência em abordar um assunto proclamando banalidades abstractas, pomposas, ou fazendo mais apelo aos sentimentos que aos factos” (tradução literal).

A definição adequa-se  às mil maravilhas  à  intervenção do ministro das Finanças, esta terça feira  na Comissão de Orçamento e Finanças.

Disse o ministro a um dos deputados: “Relativamente a medidas adicionais, é fácil dizer-lhe aqui e agora que não estamos, neste momento, a contemplar medidas adicionais de austeridade”. 
“Recordo, no entanto, que a formulação do programa de ajustamento desde o seu primeiro momento contempla um compromisso do Governo de tomar as medidas adicionais que se revelem necessárias para garantir o cumprimento dos limites do programa”

Descodificando o discurso do ministro à luz da expressão francesa, temos que o ministro “visa dissimular a sua incompetência”, traduzida no falhanço clamoroso  da sua política financeira, patente na impossibilidade de cumprimento das metas orçamentais que ele próprio traçou. Visa também “dissimular uma reticência em abordar assuntos”, foge a dizer que vai mesmo haver mais austeridade. Na sua língua de pau, o ministro  proclama “banalidades abstractas e pomposas,  ao refugiar-se na “formulação do programa de ajustamento”  (leia-se programa da troika), pretendendo mostrar que  “custe o que custar”  e “doa a quem doer”  cumprirá o “programa de ajustamento”. “Faz mais apelo aos sentimentos que aos factos”, quer que acreditem que o governo é credível e sério mas sabe muito bem que não vai cumprir as metas e que precisa de mais tempo e de mais dinheiro.

Ao menos, o seu colega do governo, Paulo Macedo, ministro da Saúde, é mais directo e explícito.

Esta tarde disse aos deputados da Comissão Parlamentar de Saúde que  “parte do buraco na saúde não se deve apenas a má gestão, desperdício e despesas ruinosas.

Não é pouco, ir reconhecendo algumas evidências….mas no caso das burlas de 100 milhões falta conhecer os nomes dos burlões, que os jornais não dizem…ao contrário do que fazem com outros suspeitos…

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