Anormalidades

“Não há nada de anormal em que as forças de segurança façam esses relatórios”, disse o general na reserva Garcia Leandro,  na RTP, referindo-se à notícia do DN sobre um alegado “relatório”acerca de uns tumultos que estariam a ser preparado para um dia destes.

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Pois não, meu general, não há nada de anormal nisso, se fosse só isso. Mas não é.

O que é anormal é que as “forças de segurança” andem a colocar nos jornais, relatórios com frases incendiárias do tipo: “PSP e secretas esperam maiores tumultos desde PREC . A agitação social deve crescer e pode atingir proporções nunca vistas nos últimos 30 anos”;

Também é anormal, ou pelo menos não é normal, que essa informação venha a público um dia depois de manifestações de protesto contra as medidas de austeridade organizadas pelos sindicatos;

Do mesmo modo, não é normal que a informação surja na sequência de declarações do primeiro ministro a falar de “tumultos” e de alguns quererem “incendiar o país”;

O que aconteceu então para tanta “anormalidade”? É simples, porque no fundo é tudo muito “normal”. Senão veja-se:

– O governo sabe que o povo é pacífico mas está descontente e à beira de um ataque de nervos;

– Sabe também que o povo é bom, aguenta sacrifícios, não gosta de brigas, nem costuma assaltar supermercados nem incendiar automóveis como se vê na televisão fazerem outros povos. O mais espectacular que fez foi os próprios polícias a molharem-se uns aos outros, no “secos e molhados” de 1989. 

– Mas o governo e as polícias sabem que se disserem que vai haver tumultos e agitação social como nunca visto, bom, aí o povo pensa duas vezes se deve ir para a rua nesses dias e talvez não vá.

– Também não é “estupidez da PSP”, como disse Marcelo Rebelo de Sousa. Pelo contrário, é coisa pensada e programada para sair agora. A quem aproveita a “fuga” do relatório para um jornal? A resposta parece óbvia.

Chama-se a isto estratégia do medo. Com  pessoas sem emprego ou em risco de perdê-lo, filhos para educar, pais idosos para ajudar, resulta. Tudo normal, portanto.