O jornalismo e a comunicação desaguando numa imensa cloaca

A blogosfera “política”  vibra de indignação com dois acontecimentos (chamo-lhes assim) que têm a ver com a comunicação estratégica e o jornalismo.

Falo de um artigo publicado pelo jornalista André Macedo, no DN, e de uma entrevista de um comunicador, Fernando Moreira de Sá, na revista Visão.

Aparentemente, tudo separa o que ambos dizem – um no DN, outro na Visão. Porém, ambos trazem à superfície o lado negro do jornalismo. O primeiro, a dependência, a falta de distanciamento e o deslumbramento de alguns jornalistas perante o poder.  O segundo a denúncia, com nomes e datas, de que há jornalistas que se prestaram a colaborar em campanhas sujas para destruir políticos e manipular os cidadãos.

Mas se um certo jornalismo que envergonha a “classe aproxima  o artigo  de André Macedo e a entrevista de Moreira de Sá, já a posição de um e de outro perante os factos que relatam não possui qualquer paralelo. Enquanto André Macedo confessa o incómodo que lhe causou a postura subserviente de colegas que com ele participaram num encontro com o então ministro Vítor Gaspar, Moreira de Sá relata que participou em práticas visando levar Passos Coelho  à chefia do partido e do governo que violam princípios éticos mínimos de qualquer comunicador, esteja ele ao serviço de um governo, de um partido ou de uma empresa. E como se não bastasse, fica-se a saber que jornalistas  no activo, cujos nomes são revelados na entrevista, participaram em práticas que se traduziram na criação de perfis falsos no Facebook, manipulação de fóruns radiofónicos, descredibilização de adversários de Passos Coelho no partido e na oposição, enfim,  o jornalismo e a comunicação estratégica desaguando numa imensa cloaca.

Que fique bem claro: o que está errado não é André Macedo ter revelado os bastidores de um encontro de Vítor Gaspar com jornalistas (prática habitual na comunicação política), mas sim  que alguns jornalistas não tenham estado à altura do seu papel, colaborando no spin do governo para passarem a mensagem que lhe convinha. É pena não sabermos quem são para seguirmos o rasto desse encontro, lendo o que escreveram e disseram depois.

Tão pouco na entrevista de Moreira de Sá se pode perder de vista que houve jornalistas e comunicadores que desceram ao patamar ínfimo da degradação ética nas respectivas profissões e que depois foram recompensados com cargos neste governo, onde alguns permanecem.

Para os mais distraídos estas duas peças jornalísticas ajudam a conhecer melhor uma parte da paisagem mediática em que vivemos.