A apresentação pública do estudo Edelman Trust Barometer Portugal saldou-se por uma bem conseguida acção de relações públicas a que não faltaram nomes com a visibilidade e a credibilidade necessárias ao sucesso da operação. O evento atingiu plenamente os seus objectivos já que o estudo teve grande mediatização sendo tema de notícias, editoriais e debates nas televisões.
Como quase sempre acontece, poucos se preocuparam em analisar a sua representatividade, apesar de, desta vez, os dados poderem ser consultados aqui. A maioria dos média não perdeu muito tempo a analisá-los, limitando-se a publicá-los tal como lhe foram apresentados. Os títulos eram, com algumas excepções, “de arrasar”.
O especialista convidado para comentar a apresentação do estudo não fez qualquer referência às limitações da amostra aspecto que, aliás, o próprio coordenador não escondeu, no Público, um dos poucos jornais, senão o único, a deter-se com algum detalhe nos “pormenores” do estudo: “Não se trata de um estudo político ou uma sondagem de opinião”, realça Carlos Brito, docente da instituição e coordenador científico do trabalho. (…) “não foi usada uma amostra representativa da população”, antes uma “amostra de portugueses informados”, tal como acontece no estudo global: são 203 inquiridos com formação superior, consumidores habituais de informação política e económica.” Todavia esta explicação não impediu o impacto do título: “Estudo revela que confiança no Governo caíu dois terços“.
Foi, contudo, o sociólogo Vilaverde Cabral quem, na TVI 24 (link indisponível), melhor esclareceu o significado de alguns dos dados obtidos.Para além de referir a pouca representatividade da amostra, chamou a atenção para o perfil dos respondentes -os ditos ” portugueses bem informados” – e para o facto de, quando inquiridos sobre quem são os “porta-vozes mais credíveis”, eles terem optado pela categoria que mais se aproximava do seu próprio perfil -“técnicos das empresas”.
O que se constata na análise deste evento de sucesso é a eficácia da empresa que o organizou. Aliás, como já se tinha visto noutro caso que referi aqui , a apresentação de estudos, sobretudo se os resultados forem “arrasadores”, tem sucesso garantido nos média.
É o que se chama “matar dois coelhos de uma só cajadada”: promove-se a empresa que realiza os estudos e dá-se visibilidade a quem os encomenda. Depois, convidam-se uns especialistas (que nunca desprezam uma boa oportunidade de aparecerem nos média) e o resto vem por arrasto: uns gráficos coloridos, uns números bombásticos e aí temos uma peça jornalística interessante e fácil de ler e ver.
Mas há uma pergunta que se impõe: Os jornalistas não deveriam ser um pouco mais exigentes na análise dos materiais que lhes são propostos para serem noticiados? Não deveriam avaliar a representatividade e a credibilidade de grande parte dos estudos que publicam, antes de se lançarem em títulos “esmagadores” que depois se revelam pouco consistentes?
É que as notícias não valem apenas no momento em que são publicadas. Elas moldam percepções dos cidadãos sobre a realidade, as quais, muitas vezes, se revelam depois muito pouco “reais”.
É apenas um provérbio popular, Regiane
feio esse nome horrivel nunca mais esse nome feio
Com este post
Passa a figurar na minha lista de testemunhas arroladas
(mesmo que não goste…)