Não tem sido habitual, em casos anteriores envolvendo investigações em curso ou em vias de o serem no Parlamento e na ERC, os principais protagonistas anteciparem em público, nos media, as informações que têm e que é suposto divulgarem em primeiro lugar às entidades encarregadas da investigação. Neste caso Público/Relvas a iniciativa partiu do ministro quando decidiu publicitar um relatório com a sua análise das notícias do Público sobre a sua audição no Parlamento, juntamente com os emails trocados com o jornal. Foi uma imprudência.
Ao tomar essa iniciativa o ministro “obrigou” o Público a responder-lhe “à letra”, num crescendo que começou com comunicados e se desenvolveu com a intervenção pessoal e directa de um dos membros da sua direcção editorial, na televisão:
Se a intenção do ministro era esvaziar o tema, por antecipação, ou marcar a interpretação dos acontecimentos, qual spin-doctor, não avaliou bem as consequências. Porque ou o seu relatório era de tal modo detalhado e fundamentado que matava o o assunto ou, como foi o caso, aumentava as dúvidas sobre as razões por que não clarificou as acusações que lhe são atribuídas pelo Público em vez de se pôr a dissertar sobre jornalismo, terreno onde sairia sempre a perder.
De pouco serviu depois ao ministro tentar emendar o erro, recusando, como tem feito, responder aos repórteres que o “assaltam” à saída e à entrada dos locais onde se desloca, levando alguns jornalistas menos ortodoxos a dizerem que anda “fugido”.
Também não parece boa ideia do ponto de vista político, que o primeiro-ministro se comprometa tão abertamente com uma das partes, parecendo querer influenciar a investigação, mesmo tratando-se do seu ministro mais importante. Quando muito, deveria ter dito o que nestes casos se costuma dizer: “deixemos que os factos sejam apurados” (ou coisa assim).
Pior ainda esteve o presidente do grupo parlamentar do PSD quando, a milhares de quilómetros de distância, veio desvalorizar a intervenção do Parlamento e jurar que as intenções do ministro não eram más.
Seja qual for o desfecho deste caso, há uma lição que o Governo deve tirar: por muito poderoso que um ministro seja e por muitas simpatias e amizades de que disponha no meio jornalístico (e dispõe, nem é preciso dizer nomes basta ver, ouvir e ler…) não é (felizmente) possível “ameaçar” jornalistas, como o Público alega que Relvas fez, sem provocar escândalo.
Tentar influenciar, pressionar, protestar… ainda vai passando sem publicidade, uma vezes com êxito outras vezes não. Assim à bruta, com ameaças de pôr a vida privada da jornalista na Net, é demasiado primário para um super-ministro.
E então levanta-se a questão de saber porque é que um ministro tão poderoso e com tão boa “penetração” no meio jornalístico perdeu assim as estribeiras.
Os blogueiros do Blasfémias e de O Insurgente tâm feito chicana com o meu post “António Costa e as virgens ofendidas”, para o que foram repescar o que escrevi neste blog sobre Miguel Ralvas e uma jornalista do Público. Pelo que vejo, não percebem a diferença entre as duas situações, talvez porque só leram o que lhes interessa. Podem recordar o que se passou com Relvas aqui: https://vaievem.wordpress.com/2012/05/19/caso-publicorelvas-se-foi-assim/
Os blogueiros confundem uma reacção dura de desagrado, dirigida por AC a JVP, com o que se passou com Relvas e a jornalista do Público. Só para recordar as “ameaças” de Relvas: “blackout noticioso do Governo contra o jornal”;“divulgar detalhes da vida privada da jornalista ”.
Palavras para quê?
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Alvoroço no galinheiro!…Até o galo está receoso que lhe apertem o papo!…
Perdeu as estribeiras porque julgava que mandava sozinho…
Agora, tem muita gente contra ele. É um triste… é um mini-ditador…. está a “levar-na-cabeça” até sair do governo.