Será a RTP a moeda de troca para a substituição de Relvas?

A venda de um canal da RTP sofreu nas últimas semanas uma aceleração aparentemente inexplicável. Todos os dias surgem notícias sobre o avanço do “negócio” sem que, contudo, o governo, os seus consultores e a própria RTP saibam o que é que efectivamente estão a preparar.

A pressa do governo parece de facto inexplicável mas talvez não o seja. Juntando as peças do puzzle, faz sentido o empenho na aceleração do processo.

Basta lembrar que  na sequência dos imbróglios em que o ministro Relvas se meteu  – licenciatura, secretas, jornal Públic0 – figuras importantes do PSD e da direita, entre as quais se contam Marcelo Rebelo de Sousa, António Capucho, Marques Mendes, Bagão Félix, Pires de Lima, defenderam que Relvas não tem condições para continuar no Governo. Na sequência dessas posições e com Relvas cada vez mais fragilizado, surgiram notícias de que o ministro Relvas “não quer sair do governo enquanto não vender a RTP”.

Na altura a notícia não foi desmentida,  tudo levando a a crer que a  RTP funciona como uma espécie de compensação ou moeda de troca: Passos dá a Relvas a “glória” de entregar uma licença de televisão (a quem só eles sabem) e Relvas deixa a Passos  o seu lugar no governo, facilitando-lhe a sua substituição por alguém com currículo mais recomendável.

Só uma razão de peso, não visível mesmo a um observador atento como é o caso do  director do Jornal de Negócios, Pedro Santos Guerreiro,  pode explicar uma decisão tão desastrosa como é a amputação da televisão pública.

De facto, a venda de um canal da RTP não corresponde a qualquer objectivo de interesse do país, seja do ponto de vista económico-financeiro, seja do ponto de vista do prosseguimento do interesse público, seja do ponto de vista de um melhor funcionamento do sector dos media.

Não só o encaixe financeiro que resultará da operação não terá qualquer peso no equilíbrio das contas da empresa e do país, como a criação de um novo canal comercial no momento em que a publicidade escasseia agravará as dificuldades dos restantes operadores, afectando em cadeia todo o sector da imprensa e das rádios.

Do ponto de vista da garantia da diversidade cultural, a concorrência que se estabelecerá entre a SIC, a TVI e o novo canal pela captação de audiências, levará a um empobrecimento da programação com o  nivelamento por baixo dos conteúdos informativos e de entretenimento.

Limitado apenas a um canal de expansão nacional, o que restar do serviço público perderá coerência, sendo levado a suprimir programas de qualidade  ou especificamente dirigidos a minorias étnicas e culturais em favor de  outros vocacionados para públicos mais alargados.

É um enorme retrocesso cultural e civilizacional do país, que nenhum partido ou governo deveriam poder fazer sozinhos. Porque, recorde-se, o CDS sempre se manifestou contra e só ultimamente inverteu o discurso e deu o dito por não dito. Se conseguirem entregar um canal da RTP aos candidatos sombra que se perfilam, PSD e CDS ficarão indelevelmente “marcados” como os “coveiros” de parte importante do património cultural do país.

O que começou por parecer  uma opção meramente ideológica é, afinal, bem mais do que isso. Falta ver quem se chega à frente…

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