Pacheco Pereira sobre a “imprensa económica”

Pacheco Pereira jornalistas de economiaPacheco Pereira escreveu este sábado, no Público, um artigo demolidor sobre um certo jornalismo dito de economia, que se pratica em Portugal. Sempre estranhei  que os jornalistas raramente reajam às críticas de Pacheco Pereira, quando outras críticas vindas de outras fontes lhes provocam reacções vigorosas quase sempre eivadas de algum corporativismo.

Pacheco Pereira debruça-se neste artigo sobre a “enorme complacência com o poder” de alguma comunicação social, destacando aí o papel da imprensa económica”.  Segundo o autor, a redução das análises correntes a um  “economês”, sem política democrática, nem sociedade, revela-se num fenómeno recente que é “a proliferação de livros de jornalistas com as receitas para salvar o país, quase todos sucessos editoriais. Eles mostram a interiorização profunda (…) do discurso do poder sobre a crise. A isso acrescentam propostas em muitos casos inviáveis em democracia e num Estado de direito, e cuja eficácia, mesmo nos seus termos, está por demonstrar. Esses livros favorecem a ideia de que o “vale-tudo” que está por detrás da continuada sucessão de legislação inconstitucional do Governo poderia ser a solução ideal “para Portugal”, que infelizmente é “proibida” ou pela “resistência corporativa” dos interesses ou por entidades como o Tribunal Constitucional, ou mesmo pela “ignorância” e impreparação da opinião pública.”

Quem serão os “jornalistas-escritores” visados por Pacheco Pereira?

Quem segue os programas de debate e de comentário e acompanha a leitura da imprensa económica, ou segue os sucessos editoriais e as redes sociais ,  identifica com alguma facilidade dois livros de dois jornalistas-autores que se enquadram na análise de Pacheco Pereira: “O meu programa de Governo” de José Gomes Ferreira, jornalista  da SIC e “Saiam da Frente” de Camilo Lourenço, jornalista do Jornal de Negócios. São dois títulos sugestivos, muito jornalísticos, nada imodestos, mas muito populares (o primeiro mais que o segundo).

Diz Pacheco Pereira, no seu artigo no Público, que alguns jornalistas sabem  que “a linguagem do poder se estabeleceu de forma acrítica na comunicação social, e aqui e ali tentam funcionar a contracorrente. Mas as redacções estão muito degradadas, com meios muito escassos, o trabalho precário, barato ou quase gratuito, pouco qualificado, prolifera e o emprego está sempre em risco, pelo que a prudência exige muita contenção.”

E provoca-os, sabendo que não gostam dos seus escritos: “Alguns jornalistas ficam muito irritados quando afirmo (e vou repetir) que um dos problemas dos dias de hoje na vida pública em Portugal é a facilidade com que a comunicação social absorve a linguagem do poder e a reproduz como sendo sua, assim legitimando-a porque lhe dá um sujeito neutro, tornando-a uma verdade universal.” 

Vale a pena ler o artigo na íntegra.E, já agora, saber o que pensa a “classe” sobre tão contundente mas, a meu ver, realista visão sobre um certo jornalismo que nos tempos que correm se tornou dominante.

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5 respostas a Pacheco Pereira sobre a “imprensa económica”

  1. F Soares diz:

    Não sou jornalista, mas a minha observação ao longo desta crise tem mostrado, no comentário politico, algumas “derivas” em vários órgãos de C Social, sobre economia e não só, são feitas de tal forma, que até parece que foram avençadas… O poder aconchega, não é? De todos , para mim, o mais coerente até é o Camilo Lourenço, com quem eu discordo em absoluto naquilo que manifesta, já que tem mantido uma posição clara , que não engana.. Quero com isto dizer, que concordo com P Pereira, sem dúvida.

  2. Antónimo diz:

    “E, já agora, saber o que pensa a “classe” sobre tão contundente mas, a meu ver, realista visão sobre um certo jornalismo que nos tempos que correm se tornou dominante.”

    A questão é saber a que classe se refere. Se a que está instalada nos OCS – estagiários e precários inclusive – ou a que foi escorraçada pelos poderes internos, para o desemprego, para a pré-reforma, por questões de salário, de consciência, de crítica aos critérios de organização interna e editoriais, os mesmos que sem terem quem lhes pague um salário se vêem afastados do acesso à carteira profissional…

  3. O que pensa JPPereira é fácil de acompanhar pela diferentes intervenções do mesmo. Quer na forma escrita quer nas diferentes intervenções com que nos presenteia num canal de televisão e em que o programa de Domingo é o mais estruturado quanto a análise do comportamento que sustenta uma certa forma de comunicar. O que me espicaça mesmo, no que à dita profissão de Jornalista diz respeito é a desconsideração, é a falta de suporte intelectual, é o facilitismo, é a vulgaridade, é o prostituir-se. Em suma é o VENDER-SE com a facilidade de cão lazarento, embora traje pela última moda, do pronto a vestir, claro. Que isto de fato por medida não é espaço a que tenha acesso. Falam de vinhos, que não conhecem e abocanham charuto seco que lhes foi oferecido em ocasião de festa, guardado para momento de exibição. Alguns brilham através de um fraseado ininteligível para humano culto mas facilmente decifrado pelos que lhes conhecem as insuficiências. Momentos há em que profissionais do mesmo oficio apenas aguardam a mudanças das cadeiras para o desempenho da mesma função.
    Ter a Profissão de Jornalista Hoje, é apenas um processo transitório de fazer parte do espectáculo. E o espectáculo tem que continuar. Mesmo que os intérpretes sejam de qualidade menor.

  4. sissil diz:

    de facto não poderei deixar de concordar com Pacheco Pereira, aquilo que ele diz assenta que nem luva, aos referidos jornalistas, são de uma subserviência que faz doer a alma, muito raramente oiço um comentário algo correcto quer de um quer de outro, então o 1º é pretencioso e pouco conhecedor dos assuntos que aborda, aquele livro dele meu DEUS! O outro aproveita sempre para deitar água na fervura, quando tudo já está esturrado.

  5. Os escritos mencionados são trabalhos que por acaso são feitos por um jornalista e um comentador. Eu que tenho apreço pelo trabalho de jornalistas, gosto de os ver como afastados de posições e opções politicas para que possa mais seguramente confiar no que dizem (indespensavel em democracia saudavel) sem estar a fazer juizos ,( como faço com o P.Pereira) do tipo : estar a dizer isso porque andas de unhas afiadas contra o jotinha Coelho e pensa que osucessor de arranja um poleiro. Os politicos se querem ser sérios dêm o espaço de liberdade que os jornalistas precisam e merecem para que sejam realmente um pilar mestre da democracia saudavel. Preto ser branco é para os politicos tipo P.Pereia.

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