«Não tenho responsabilidade sobre a capacidade dos partidos em gerar eventos que interessem às pessoas e sejam relevantes. Há líderes partidários que optaram, por estratégia política, por não falar. O que faço perante o silêncio de líderes partidários?»
(excerto de declarações de José Alberto Carvalho perante a Comissão Parlamentar de Ética, justificando os dados identificados pela ERC relativos à presença do PSD na RTP1, RTP2 e RTPN, constantes do relatório da ERC sobre o pluralismo político-partidário no serviço público de televisão, em 2009, (situação também identificada em 2007 e 2008).
Vejamos o que essa declaração significa:
– Se um partido não “gera eventos” não há notícias sobre esse partido. Chama-se a isto “jornalismo pé-de-microfone”;
– Se um partido “não fala” e pratica o “silêncio” como “estratégia”, não há notícias. Chama-se a isto ter uma concepção reactiva (dependente) da informação, que se traduz na legitimação do conceito “jornalismo pé-de-microfone” como “critério jornalístico”;
– Os eventos gerados pelos partidos têm de “interessar às pessoas”. Não se conhecendo o critério em que se baseia a identificação do “interesse das pessoas” é legítimo presumir que seja o das audiências, critério discutível tratando-se do operador de serviço público;
– Os “eventos gerados” (pelos partidos) têm de ser “relevantes”, o que significa que (para a RTP) o PSD, não “gerou”, ou “gerou” poucos, “eventos” “relevantes” nos anos de 2007, 2008 e 2009, nos quais se verifica a situação apontada no relatório;
Vejamos então alguns acontecimentos – “eventos” – político-partidários ocorridos apenas em 2009 (para não me alongar muito) que envolveram os partidos políticos e que desmentem a ausência de “eventos” alegada pela RTP:
– Congresso do PSD nos Açores e congressos gerais do PS e do CDS/PP. Note-se que em 2008, (ano em que os valores da presença do PSD na informação da RTP foram idênticos aos de 2009) ocorreu a eleição do actual presidente do PSD, o congresso nacional do Partido e a eleição do líder parlamentar;
– Reacções críticas dos partidos políticos às políticas governamentais – para a educação, fiscais, financeiras, económicas e para a saúde;
– Declarações proferidas durante os períodos anteriores à pré-campanha para os três actos eleitorais realizados em 2009 (excluiram-se da análise os períodos das campanhas eleitorais, objecto de análise autónoma visto regerem-se por legislação específica);-
– Comentários dos partidos a notícias sobre os casos Freeport, BPN, Face Oculta;
– Reacções ao veto presidencial à Lei Eleitoral e ao discurso do Dia de Portugal.
Em suma:
Afinal onde é que está o “absurdo” referido aqui? Não será nos “critérios jornalísticos” adoptados?