Sócrates no écran, a três dimensões.

Sócrates responde à SIC 3José Sócrates voltou a falar, desta vez, à SIC. Tal como a TVI, a SIC reproduziu no écran as respostas escritas de Sócrates às perguntas que lhe foram entregues (tudo leva a crer) pessoalmente por um jornalista da própria SIC numa visita à cadeia de Évora (recordo-me de ter visto na CMTV, o jornalista da SIC, Anselmo Crespo, a sair da cadeia depois de visitar Sócrates).

A SIC promete para esta quarta-feira o relato do jornalista sobre o resultado dessas visitas e sobre o dia-a-dia de Sócrates na prisão.

Este episódio, para além das respostas de Sócrates às acusações que lhe são diariamente feitas em alguns jornais nas quais o ex-primeiro ministro se defende  com acutilância, levanta várias questões e mostra como são obsoletos os métodos da justiça.

Vejamos: então o Expresso não pode fazer uma entrevista formal a José Sócrates, mas um jornalista da SIC pode visitá-lo  e levar umas perguntas, conversar com ele e depois fazer uma peça jornalística sobre essas visitas? Onde está então o problema de Sócrates dar uma entrevista ao Expresso? Não é a presença de um jornalista, porque o jornalista da SIC o visitou (dias vezes, disse a própria SIC). É então a presença de  câmaras de televisão? A  proibição incide sobre captação de  imagens e de som, ou só de imagens? Um detido não pode falar com jornalistas, só pode escrever-lhes? Mas então para que servem as visitas de jornalistas?

E um detido que alimenta um blog na prisão onde  escreveu  sobre o dia-a-dia-de Sócrates, sobre o qual a CMTV fez uma reportagem, pode devassar assim a vida de outro preso? E se ele arranjar maneira de gravar umas imagens de Sócrates ou de outros detidos? O que faz o director da cadeia?

O que está acontecer no processo Sócrates é uma autêntica paródia à justiça. Enquanto o juiz e o procurador se desunham à procura de provas, pingando (ou deixando pingar) partes do processo para ir entretendo jornais, o “actor principal” vai usando as “armas” de que dispõe: a palavra escrita. É uma palavra eficaz porque de palavra escrita, torna-se em palavra  oral (na voz off do jornalista que a lê) e visual  nas imagens (de arquivo) que a enquadram.

É  Sócrates a três dimensões, como as imagens da cadeia de Évora que a SIC criou para anunciar as declarações de Sócrates.

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7 respostas a Sócrates no écran, a três dimensões.

  1. Pingback: Porque é que Sócrates continua preso? Porque sim! | VAI E VEM

  2. Julieta Sampaio diz:

    O que se esta a passar com o procsso do cidadão José Sócrates ofende a nossa cidadania. Qualquer cidadão sente que nao esta seguro no seu país. A justica existe para nos garantir o cumprimento dos nossos direitos mas neste caso os direitos têm sido calcados por tudos incluindo a tal justiça que era suposto defender. Quem viver o que mais irá ver. Prudência e sensatez nunc fez mal a ninguém.

  3. A.M. O seu comentário é uma ameaça?

  4. Maria diz:

    E entretanto, os juízes fingem-se ofendidos com Mário Soares

    http://transparente.blogs.sapo.pt/caso-socrates-calma-senhores-juizes-35232

  5. Maria diz:

    Muito bem respondido, José Sócrates respondeu ao seu nível, como seria de esperar. Respeitando até os outros presos , coisa que esse blogger não fez.

  6. Reblogged this on ergo res sunt and commented:
    Da Estrela Serrano, blogue Vai e Vem

  7. A.M. diz:

    Não interfiro com a sua liberdade, nem tão pouco, sublinho, com a consideração que lhe é devida, dizendo isto: faça essas perguntas todas (e outras), mas guarde-as para si.
    Não publique. Sobretudo, não aborreça…
    Além de nos chagar a paciência e de afectar seriamente o seu perfil e imagem pública, registo no caso dois danos notórios: um no plano cívico, para a credibilidade do sistema e das instituições, que a vossa/sua campanha diuturna e subversiva não pode deixar de corromper; outro no plano individual, da defesa da posição de José Sócrates, que os defensores de tão extrénuos no seu exagero, paixão, pormenor e ridículo acabam por prejudicar, em lugar de favorecer.
    Não falo já da intolerável pressão que estão exercendo sobre os agentes do sistema, multiplicando por dez, por cem, por mil, o efeito deletério daquilo que a seu tempo, estou certo, criticaram do lado do Governo e da U.E. com relação ao Tribunal Constitucional.
    Deus vos fez, Deus vos juntou (para não usar do franciú dos ‘bons esprits).

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