“Números às pinguinhas”

Às vezes, a pressa de desmentir notícias não dá bom resultado. Foi o caso do anúncio da “descoberta” do “novo buraco” nas contas da Região Autónoma da Madeira. Explico melhor:

O Diário de Notícias antecipou a notícia de que a ‘Troika’ descobre novo buraco de 223 milhões na Madeira.

Alberto João Jardim, “apanhado” na praia, não gostou e reagiu:  “Não há novo buraco. Já se sabe qual é o montante da dívida  (…) só que a estratégia é darem os números às pinguinhas e vai ser assim durante o mês de Setembro. Todos mobilizados para atacar a Madeira”.

O primeiro-ministro, em périplo europeu, confirmou as palavras de Jardim, afirmando  que “não há notícias novas” sobre qualquer desvio adicional na Madeira, sendo que o valor global de 500 milhões de euros já tinha sido detectado na primeira análise feita pela “troika”.(…) «O que importa desse ponto de vista é que assim que esse desvio foi detectado, foi colmatado com medidas apresentadas pelo governo».

À tarde, o ministro Vítor Gaspar durante a apresentação do documento de estratégia orçamental 2011-2015 não desmentiu nem confirmou  directamente o caso mas, propositadamente ou não, ao responder a perguntas sobre o “buraco” usou os verbos nos tempos condicional e futuro, isto é, nem no passado (como o primeiro ministro e A.J.Jardim) nem no presente (como a notícia do DN ).

Disse o ministro Gaspar que a solução para a situação da Madeira (principalmente) e dos Açores poderia passar por “se estabelecer um programa semelhante ao que existe para a República”, acordado com as instituições internacionais, [acrescentando  que] será possível garantir um ajustamento bem sucedido nas Regiões Autónomas, garantir a disciplina orçamental e contribuir para a estabilidade financeira. A situação na Região Autónoma da Madeira parece-me uma situação de crise, parece-me uma situação insustentável, e por isso parece-me importante que se actue rapidamente”.

Este desfasamento temporal sobre a descoberta do “buraco” da Madeira  veio chamar a atenção para o que se diz aqui, isto é,se o “buraco”  já tinha sido identificado pela troika e/ou pelo governo na altura em que o primeiro ministro falou em “desvio colossal”, porque é que não foi divulgado imediatamente e esclarecido o significado dessa expressão?

Parece, pois, poder concluir-se que Alberto João Jardim e o primeiro ministro não previram as consequências do desmentido  que fizeram, com ele “confessando” implicitamente  que na altura não disseram “toda a verdade”, não porque aquela fosse a “verdade do momento” mas sim porque deliberadamente, praticaram uma “fuga à verdade”.  

Afinal, a “estratégia de dar os números às pinguinhas”, atribuída à oposição  pelo Presidente do Governo Regional da Madeira, é da responsabilidade do Governo ao decidir  só agora dar conhecimento público da segunda parte do  “desvio” da Madeira que já sabia ser, realmente, “colossal”. 

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Uma resposta a “Números às pinguinhas”

  1. Se os governos não são capazes de lidar com o ditador da Madeira se calhar é melhor chamar a NATO…

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