RTP: os candidatos querem a casa arrumada antes do assalto

“Tanta gente e tantos carros” parece ser agora o enfoque principal dos detractores do serviço público de televisão, demonstrada que está a falácia dos custos e dos ganhos para o orçamento de Estado que resultariam da concessão do serviço público. Mas os ganhos serão só para   o operador privado que ficar com a concessão da RTP, que terá a garantia de um lucro de pelo menos 20 milhões de euros já em 2013. 

Vamos por partes:

Quando se fala no número de trabalhadores da empresa não se tem em conta o universo RTP, que pode ser representado pelas figuras seguintes (actualizadas por mão amiga):

imagem RTP

A RTP tem  pouco mais de dois mil trabalhadores (2183, número médio em 2011, segundo o Relatório e Contas 2011) para tão amplo universo que abrange não apenas os trabalhadores sedeados em Portugal e nas Regiões Autónomas mas também os correspondentes no estrangeiro, uma das obrigações do serviço público.

Quanto aos “57 carros de luxo”, citados no Correio da Manhã, o problema, a haver um problema, é o “luxo” porque os carros fazem falta, dado que jornalismo não se faz só ao telefone e na Internet. É que as televisões vivem de imagens e de sons captados nos locais onde ocorrem os acontecimentos e, como se imagina, há sítios onde andar a pé com o material não dá muito jeito, além de que o que se pouparia em carro e combustível gastar-se-ia em duração do tempo de cada saída para trabalho…

Mais a sério, se há viaturas a mais na RTP e se são de “luxo” ou se estão distribuídas a quem não precisa delas para trabalhar, a questão é fácil de resolver. Cortem-se os luxos e redistribuam-se ou vendam-se as viaturas supérfluas. Aliás, se mesmo com  luxos a RTP equilibrou as contas a ponto de poder prescindir da indemnização compensatória já em 2013, o problema é ainda menos grave. O lucro vai ser então superior ao anunciado pelo director-geral.

Mas compreende-se que o Correio da Manhã, cuja proprietária – a Cofina – é apontada como candidata à concessão ou à venda ou seja o que for, da RTP ou de um canal, se preocupe com os Audis e os Mercedes e queira ver a casa “arrumada” antes de tomar conta dela.

É óbvio que a RTP não é perfeita e que qualquer que seja o seu futuro necessita de ajustamentos que melhorem o seu desempenho em todos os níveis, nomeadamente na qualidade da oferta do serviço público. Isso não justifica, porém, a demagogia e a inconsistência dos argumentos usados para esconder que o que se pretende, ao fim e ao cabo, é acabar com ela.

Esta entrada foi publicada em Comunicação e Política, Governo, Política, Sociedade, Sociologia dos Média, Televisão com as etiquetas . ligação permanente.

8 respostas a RTP: os candidatos querem a casa arrumada antes do assalto

  1. isabel Silva diz:

    Quanto aos salários e benefícios milionários de alguns jornalistas estamos todos de acordo.
    Tudo isso é pago com os nossos impostos e daí que, eu enquanto patroa, fique escandalizada com a situação! Mas isso sou foi possível com os belos gestores que os sucessivos governos nomeiam para a RTP e outras empresas públicas.
    Mas acabar com o serviço público da RTP digo NÃO e NÃO!!!
    Limpe-se todo o lixo que vem do passado, sim, mas a RTP é nossa não é dos abutres que já se perfilam!

  2. Popy, tem razão, só tinha aquela imagem do universo RTP mas já substituí. Obrigada.

  3. Mário Silva esclareça sff o que quer dizer para podermos discutir o assunto.

  4. Mário A. Silva diz:

    Pois o problema é que o erário publico não andou a sustentar durante anos, indemnizações compensatórias. Recomendo que se informe melhor sobre a origem do passivo da RTP.
    Cumprimentos

  5. Eliminação da taxa em 1991, má gestão de sucessivas administrações, incumprimentos dos governos quanto a indemnizações compensatórias são as causas da dívida. A reforma Morais Sarmento e as duas últimas administrações equilibraram a empresa.Não há mistério, há boa gestão e trabalhadores empenhados e há ainda muito trabalho a fazer sobretudo na qualidade da programação.

  6. Mad PrtAF diz:

    Não percebo: ao fim de tantos anos em que o erário público andou a sustentar indemnizações compensatórias e de repente a RTP vai começar a dar lucro? Que terá acontecido? Mistério!!!

  7. popy diz:

    Esse quadro está cheio de erros. Na linha acesso livre, devem estar TODOS assinalados MENOS a RTP N (agora Informação) e a RTP Memória. Todos os outros são em acesso livre, mesmo a RTP África, que em Portugal está no cabo, mas está em acesso livre através de satelite.

    Na linha emissão satélite, RTP N não devia estar sinalizado, mas sim a RTP África.

    No stream/on demand, todos devem estar assinalados.

    No podcast, Antena 1, 2 e 3, RDP Internacional e África têm podcast.

    Se a imagem é mesmo fonte RTP, está completamente mais que desactualizada e/ou com informação errada.

  8. Marionela Gusmão diz:

    A RTP tem excelentes profissionais e foi dela que saíram os que hoje trabalham nos outros canais. Não direi todos, mas foram muitos. Se a RTP tem as contas tão em ordem porquê vende-la? Para enriquecer os outros? Vi as contas que o José Rodrigues dos Santos apresentou e lembro ainda aos senhores da SIC e TVI que quando eles apareceram já a RTP cá estava. Há problemas de publicidade? Pois, há. São os riscos dos empresários. O que poucos devem saber é que a SIC beneficiou, em grande, ao receber o sinal para emitir sem pagar um tostão à RTP. O mesmo não se pode dizer da TVI que se socorreu dos vários emissores que tinha da Rádio Renascença.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.