Ontem à noite os membros do Conselho Regulador da ERC foram contactados individualmente, com grande urgência no meu caso, por uma jornalista do Correio da Manhã para responder a um conjunto de perguntas destinadas a uma “investigação” de que tinha sido incumbida pelo jornal. As perguntas que me estavam destinadas incidiam sobre a entrega da “declaração de riqueza” no Tribunal Constitucional e o contrato com uma instituição de ensino superior onde dei aulas até 2006, ano em que iniciei funções na ERC.
Respondi à jornalista e perguntei-lhe se a “coincidência” da “investigação de que fora incumbida estaria relacionada com a Recomendação que a ERC dirigiu ao Correio da Manhã, publicada esta segunda-feira, por ter divulgado, na sua edição em papel e no respectivo site, imagens do homicídio de um homem que foi repetidamente baleado na presença de sua filha, uma criança de 4 anos, em violação do artigo 3.º da Lei de Imprensa, recomendando-lhe o escrupuloso cumprimento das normas ético-legais da prática jornalística, que impõem, desde logo, o dever de respeitar a dignidade humana e a intimidade dos cidadãos, nomeadamente das vítimas de crimes, bem como o dever de rejeitar o sensacionalismo.
É evidente que a referência que fiz a esta recomendação da ERC não era inocente, uma vez que a direcção do Correio da Manhã em nota que juntou ao texto da recomendação avisou que se reservava “o direito de responder em próximas edições”, o que fez hoje exercendo o seu “direito à represália” com duas páginas, incluindo um editorial cujo título – Entre o frete e a vingança – se aplica antes ao próprio jornal, como referi aqui e aqui. Aliás, sobre “vingança” estamos conversados e sobre “fretes” seria interessante investigar quem os faz e a quem.
Não está, naturalmente, em causa o direito e até o dever de os órgãos de comunicação social escrutinarem a actuação dos membros de instituições públicas e à ERC e aos membros do Conselho Regulador não tem faltado escrutínio.
O que é notório e muito preocupante neste caso, é o Correio da Manhã estar convencido que atemoriza os actuais e os futuros reguladores (quem sabe, se não é mesmo essa a sua intenção visto os actuais estarem de saída) publicando “investigações” sobre os seus membros quando eles tomam decisões que lhe são desfavoráveis, pensando que assim os consegue “domar”. (Pela minha parte, investigue o que quiser, até posso dar uma ajudinha, por exemplo, na introdução de métodos de investigação sérios e rigorosos, área da minha especialidade académica.)
Sobre a matéria de facto que o Correio da Manhã publica na sua edição de hoje, confirmo que tenho uma “declaração de riqueza” ao Tribunal Constitucional em atraso, dado que estava convencida que a nova legislação só obrigaria à actualização das anteriores no final do mandato (parece que assim é, porém apenas a partir de 2010). E sobre “contratos” e outros “rabos de palha”, lamento informar o Correio da Manhã que se enganou na porta.
Matéria mais séria e condenável é, porém, um órgão de comunicação social considerar que tem poder para exercer represálias sobre pessoas e instituições que, no uso das suas atribuições e competências legais ousam reprovar a sua actuação.
Que pena ver jornalistas, profissão muito respeitável e essencial à democracia, obrigados a cumprir ordens “superiores” movidas por vinganças e represálias para não perderem o emprego…
Hello. excellent job. I did not expect this. This is a great story. Thanks! kbekefekkebd
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dada a tristeza dos comentários e do post, recomendo ao Carlos Fortes que aprenda a escrever correctamente. Com que então “repreção”? E que tal, repressão?
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Se para denunciar um eventual incumprimento de uma norma legal são necessárias duas páginas de qualquer pasquim é por demais evidente que tudo aquilo se enquadra e tresanda a jornalismo de chiqueiro.
Há bácoros que nunca chegam a porcos. O CM é uma dessas evidências
Há muito que não leio esse triste vómito do jornalismo de sarjeta. Vamos lá a ver quem são as suas próximas vítimas . Que tristeza.
Cada vez mais me convenço que certo tipo de jornalismo além de ser despudoradamente sensacionalista é também um crime ambiental com o que se gasta na sua publicação. O jornal que refere é um desses infelizes exemplos.
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ha q ter coragem e não permitir q a amordacem…
é muito valioso o q escreve
e isso, se calhar, incomoda certos personagens deste nosso teatrinho politico
esse pasquim não passa disso mesmo…
uma latrina…
Abraço amigo
Eu já deixei de ler o jornal. Lia-o de borla no café mas prefiro ler a Dica . É mais séria.
Deixem comprar o jornal Correio da Manhã, passa não haver repreção.
Sendo assim, todos os leitores do Correio da Manhã, deviam de deixar comprar o Jornal, para não haver repreção.