Não foi uma boa ideia o convite ao ministro Miguel Relvas para encerrar um debate sobre o futuro do jornalismo, organizado pela TVI, no ISCTE, para assinalar o seu vigésimo aniversário.
E não foi boa ideia porque o ministro tem no seu currículo como governante dois episódios que não o recomendam para falar de jornalismo: são eles o caso da jornalista do Público ameaçada pelo ministro de divulgação de aspectos da sua vida privada, em virtude de ter insistido em perguntas incómodas sobre a sua troca de sms com o ex-espião Silva Carvalho, na sequência do que se demitiu do jornal Público; e as condições excepcionais e pouco transparentes em que lhe foi concedida a licenciatura.
As vaias de que o ministro foi alvo ontem e hoje em sessões públicas sucedem a outras manifestações de protesto no Parlamento quando o primeiro-ministro discursava e foi interrompido por manifestantes cantando Grãndola Vila Morena.
Os organizadores de eventos públicos vão ter que rever as suas estratégias de comunicação, até agora baseadas em grande parte na presença de membros do governo para assim conseguirem visibilidade, certos que estão de que os jornalistas cobrem geralmente os eventos onde os governantes marcam presença.
Ora, num momento em que os governantes estão sob fogo intenso de quase todos os grupos sociais, a visibilidade que obtêm não compensa o apagamento do tema dos eventos para que são convidados, como aconteceu com a sessão organizada pela TVI: a notícia foram os incidentes com Relvas e não o “jornalismo do futuro”. Aliás, pelo excerto lido pela TVI do discurso do ministro, que não chegou a sê-lo, o ministro ia falar da RTP…
O director da TVI, José Alberto Carvalho, entrevistado na própria TVI sobre os acontecimentos, afirmou que sendo legítima a liberdade de manifestação dos estudantes impediu a liberdade de expressão do ministro, igualmente legítima. Acontece porém que o ministro devia saber que não tem autoridade ética, política ou académica para falar de jornalismo. O que admira é a TVI não ter antecipado que algo idêntico iria suceder. para mais num local – o ISCTE – que ela própria não podia controlar.
Obrigada ao Blasfémias pela partilha…:-)
Pingback: Estrela Serrano faz doutrina | BLASFÉMIAS
Pingback: O ministro Relvas não foi impedido do falar, desistiu de falar, o que é diferente | VAI E VEM
A minha liberdade acaba onde a tua começa. Será que esta sentença também se aplica a ladrões, bandidos e aldrabões?
Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.