O que teria passado pela cabeça do Presidente ou dos conselheiros que o aconselharam ou lhe sugeriram a publicação no site da Presidência de declarações aos jornalistas durante a sua visita à Coreia, há cerca de mês e meio, sobre o Grupo Espírito Santo?
A transcrição dessas declarações não terá certamente sido uma “resposta” do Presidente ao advogado dos pequenos accionistas do BES quando na entrevista ao jornal i disse que “[h]ouve clientes que foram convencidos a investir no BES por causa das declarações de Cavaco”. Tudo indica, porém, que o foi.
O Presidente esteve calado todo o tempo em que o GES e o BES faliram e nasceu um banco bom e um banco mau. Não se compreende que venha agora chamar a atenção para declarações que proferiu antes do afundamento do Grupo e do Banco. Seria uma espécie de auto-crítica, coisa que não está no seu feitio.
Tudo leva a crer que o Presidente quis apontar o dedo ao governador do Banco de Portugal e a melhor maneira que arranjou para o fazer foi citar-se a si próprio em discurso directo e ao governador em discurso indirecto: “o Banco de Portugal tem sido perentório, categórico, a afirmar que os portugueses podem confiar no Banco Espírito Santo, dado que as folgas de capital são mais do que suficientes para cobrir a exposição que o banco tem à parte não financeira, mesmo na situação mais adversa. E eu, de acordo com informação que tenho do próprio Banco de Portugal, considero que a atuação do Banco e do Governador tem sido muito, muito correta.”
É absurdo pensar que o Presidente quisesse recordar a sua responsabilidade no encorajamento da compra de acções do BES na véspera do descalabro. Mas na realidade não pode negá-la.
Atirar a responsabilidade para cima do Governador (embora este a tenha em grande parte) não é um gesto que dignifique o Presidente, porque sendo ele Presidente e professor de Finanças devia saber que o Grupo e o Banco Espírito Santo não estavam em situação de serem recomendados. Mas o Presidente garantiu que os portugueses podiam confiar no BES. Estava mal informado. Devia reconhecê-lo agora. Era o mínimo dos mínimos.
Não, não estava mal informado. Estava a ser coerente com o que pensa, a enviar uma mensagem positiva, cag…do-se para quem seria prejudicado: sempre os que não tinham informação privilegiada, ninguém do seu círculo restrito de confiança. Apenas cretinice, nada mais.
Neste ponto estou com Cavaco Silva…
Essas declarações foram proferidas para que investidores coreanos comprassem o BES!
Até Cavaco sabe que ninguém em Portugal liga ao que ele diz desde que nos mentiu a todos sobre a sua participação no BPN.
Esses investidores, infelizmente, engaram-se a eles mesmos.