Como se esperava, o segundo debate começou a “pôr as coisas no sítio”. Seguro adoptou uma postura mais calma, embora não tenha resistido a um ou outro soundbite, o mais insistente dos quais foi a frase “isso fica-te mal”, cada vez que Costa desmontava aspectos da sua liderança e do seu programa político. Porém, no essencial, o debate aproximou-se do que seria expectável entre dois companheiros de partido, políticos profissionais, que se enfrentam civilizadamente.
António Costa, finalmente, acertou no registo. Sem perder a “evangélica paciência”, segundo a sua própria expressão, perante as interrupções de Seguro, Costa conduziu o debate e não deixou sem resposta algumas picardias de Seguro.
Hoje, pode dizer-se que Costa ganhou e Seguro perdeu menos do que perderia se tivesse mantido o registo agressivo do debate de ontem. Porque ninguém aguentaria mais ataques pessoais e queixinhas.
Sobre o conteúdo substantivo do debate pouco há a dizer de novo. Nos dois debates nenhum tema foi aprofundado. Como dizia Bordieu, é uma espécie de “fast-thinking”: mal um candidato aflora um tema, logo a moderadora quer passar para outro, e logo depois para o seguinte. Toca-se em tudo sem aprofundar nada. Mais valia seleccionar dois ou três temas e aprofundá-los, em vez desta espécie de “toca-e-foge”.
A moderação dos debates não tem sido famosa, embora isso fosse até certo ponto expectável. No primeiro debate, Judite de Sousa explorou a animosidade de Seguro contra Costa e isso marcou todo o debate. Talvez fosse impossível evitar o confronto entre os opositores, já que ele estava no subconsciente dos candidatos e dos telespectadores. Hoje, Clara de Sousa tentou variar os temas, mas o tempo não deu para mais do que uma breve passagem por alguns deles.
No final dos dois debates, os comentadores tentaram encontrar no que cada candidato disse ou não disse pistas para a sua análise. Não raro acabaram a discutir as suas próprias ideias, convicções e opiniões para além do debate. Hoje, por exemplo, na SIC Notícias acabaram a discutir Marinho Pinto.
Talvez tenham razão porque, como dizem os estudos televisivos, perante um debate televisivo a primeira reacção do telespectador comum é: “gosto (ou não gosto) deste tipo!”. Saber porquê é questão para depois.