Do “bloqueio” aos que “já mal falam” e os que escondem os papéis

1000_expresso_4098boNum tempo em que toda a informação está permanentemente a ser actualizada e comentada na Internet, ler jornais representa sempre uma tentativa de encontrar neles algo  que justifique a sua leitura.

Sou daquelas pessoas que continuam a comprar e a ler jornais em papel e a descobrir sempre neles sempre motivos para reflexão e discussão.

Este sábado,  três peças do Expresso despertaram a minha atenção:

A primeira, na pág 3,  com o antetítulo: “Bloqueio Governo admite fasear reforma se a troika deixar mas teme que o TC bloquei soluções”, enquadra uma peça intitulada “Passos esperava mais de Portas na reforma do Estado”, na qual se citam, ora “fonte próxima de Passos”, ora “o núcleo duro do Executivo” que desenvolvem a ideia de que o “Governo teme bloqueio político do Tribunal Constitucional caso diplomas-chave sejam chumbados”. O TC é apresentado como  factor impeditivo da descida dos impostos.

É interessante constatar como a  expressão Bloqueio constitui  o elemento que enquadra e dá sentido a toda a peça, na qual o governo surge como vítima do Tribunal Constitucional. É uma peça completamente alinhada com o discurso oficial.

A segunda peça a chamar a minha atenção surge na pág. 5 e chama-se “Cavaco quer debate sobre alternativas económicas”. A curiosidade aqui é ficar a saber-se que entre os convidados, apenas um, Manuel Caldeira Cabral, surge com a etiqueta “próximo do PS”. Os outros ilustres convidados, todos académicos, surgem ligados apenas às universidades onde trabalham. De entre estes, apenas José Reis traz a indicação de “radical”. Dir-se-ia que os restantes não são “conotáveis” com qualquer partido, ideologia ou corrente. Temos assim que conotado, conotado, só mesmo um, e com o PS.

Finalmente, reparei na peça da página 7.  Intitula-se “Documentos não circulam para evitar fugas de informação“. Aí se a afirma que só Passos possui a versão integral do documento elaborado por Paulo Portas sobre a reforma do Estado, o mesmo acontecendo com o documento da estratégia de comunicação elaborado por  Poiares Maduro. Tudo isto, diz o Expresso, porque os ministros não confiam uns nos outros.  O interessante, porém,  é facto de a versão integral do documento de Portas que não foi distribuída aos ministros, ser citada no mesmo artigo do Expresso onde se revelam partes desse documento, além de outras confidências como a de que “Passos e Portas já mal falam“.

Como se vê,  lendo jornais fica-se a conhecer melhor não apenas o que neles se escreve mas também o que, sem estar escrito, resulta da sua leitura atenta.

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2 respostas a Do “bloqueio” aos que “já mal falam” e os que escondem os papéis

  1. Álvaro de Campos diz:

    José Reis radical? Curiosamente, e se for o mesmo, é só o diretor da faculdade de economia da Universidade de Coimbra. Mas para o Expresso será coisa pouca e alguém que tenha um pensamento dissonante do discurso económico oficial do Governo é um louco radical. Pelo contrário, os neosliberais, que destroem o país, são todos apresentados como sendo gestores ou economistas respeitáveis. Uma escrita digna dos tempos do PREC.

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