A ministra Maria Luís perdeu, desta vez, a batalha. Mas ainda tem outras pela frente. Se não tiver cuidado com o gosto que se lhe adivinha para a deturpação da realidade, como provou na Comissão de Inquérito aos swaps e no processo de demissão de Pais Jorge, não vai longe.
O aval que lhe foi conferido pelos amigos europeus de Vítor Gaspar, aval que em Portugal ninguém se atreve a contestar, não basta para validar a sua capacidade para integrar o governo de um país democrático.
É que à ministra Maria Luís não se exige apenas que saiba de finanças e seja “perita em swaps”, como a citou Vítor Gaspar. Há regras e comportamentos éticos que deve conhecer e respeitar. É preciso, por exemplo, que mostre ser capaz de reconhecer que errou quando errou.
Maria Luís tem uma relação conflituosa com a verdade dos factos, mesmo considerando que a verdade em política pode ser evolutiva (o que é verdade hoje pode não o ser amanhã). Mas no caso de Maria Luís a obstinação com que recusou reconhecer que omitiu factos comprovados documentalmente, fugindo à verdade com argumentos laterais e “criativos”, mostra que não olha a meios para atingir os fins.
A defesa cega da manutenção de Pais Jorge manifestando-lhe confiança quando tudo indicava que ele mentira e omitira (como ela) factos documentados, levou-a erradamente a pensar que a protecção que lhe deu seria suficiente para o manter impunemente no lugar.
A patética carta de demissão de Pais Jorge (na esteia de Gaspar) endeusando a ministra “O facto de uma pessoa excecional, como é a senhora Ministra de Estado e das Finanças, considerar que eu poderia ser útil bastou-me para tomar essa decisão“, é mais uma peça caricata de todo este triste episódio.
Maria Luís não está obviamente preparada para as altas funções que lhe estão atribuídas. Reaje intempestivamente com fugas para a frente ao escrutínio mediático e parlamentar a que obrigatoriamente um governante está sujeito. Falta-lhe sensibilidade para o desempenho de funções políticas. Bastou que o afastamento de Vítor Gaspar a trouxesse para a ribalta para se ver que não possui dimensão de estadista.
Deixar uma pessoa assim ser ministra e, mais ainda, deixá-la escolher os membros da sua equipa ministerial só podia dar no que deu. Numa leitura benigna não direi que quis proteger-se colocando as suas “pedras” nos lugares certos. Mas essa leitura é legítima.
Considerando a fraqueza que caracteriza a liderança de Passos Coelho e a sua insegurança e inexperiência para dirigir o governo, uma ministra com o perfil de Maria Luís só pode trazer sarilhos ao governo.
Tudo isto é agravado pela desastrosa iniciativa dos briefings do governo, tornados palco de declarações exóticas de quem os dirige, de quem neles comparece e de perguntas dos jornalistas em estilo condizente.
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