Saíram frustradas as expectativas daqueles que esperavam ter hoje nas audições da ministra das Finanças e do governador do Banco de Portugal respostas às principais questões que têm sido colocadas no caso BES. Essas questões não são, a meu ver, saber que alternativas tem a oposição, nomeadamente o PS, para resolver o problema, como a maioria repetidamente afirmou, numa tentativa, aliás conseguida, de enviezar o debate.
De facto, não seria com o BES reduzido a lixo e depois de o governo e o BdP terem decidido resgatá-lo e parti-lo ao meio em “banco bom” e “banco mau” que a oposição iria apresentar alternativas. O que o governo e o BdP tinham e têm que explicar é porque razão iludiram os sinais que conheciam e mesmo perante o desastre iminente demoraram tanto tempo a tomarem a decisão de resgatar o BES. Para além disso, deveriam explicar todos os procedimentos adoptados e se os mesmos são ética e juridicamente correctos.
Acontece, porém, que o spin do governo e da maioria para focarem a discussão nas falta de alternativas da oposição, fez o seu caminho. E assim as audições da ministra e do governador acabaram por servir afinal para mostrar que a oposição não tem alternativa à decisão tomada pela dupla BdP/governo.
Pouco importa que o governo tenha escondido um decreto-lei, omitindo-o do comunicado final em violação do regulamento do Conselho de Ministro onde o mesmo foi aprovado. Foi preciso Pedro Silva Pereira divulgar o caso na SIC Notícias para que o mesmo fosse conhecido. Alguns deputados bem questionaram a ministra e o governador mas ela fugiu completamente à questão, não assumindo a omissão (para não lhe chamar ilegalidade) e o governador disse que não era consigo.
Pouco importa também que continue sem se saber quem teve acesso a informação privilegiada e quem libertou essa informação que viria a precipitar o descalabro das acções do BES, na sexta-feira passada. E também não se ficou a perceber porque razão a CMVM não foi avisada de que o BES ia ser resgatado.
Resta a consolação de os debates organizados pelas televisões envolvendo economistas, académicos e juristas serem mais esclarecedores do que as audições parlamentares da ministra das Finanças e do governador do Banco de Portugal. A democracia mediática é mais eficaz que a democracia parlamentar.
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